Publicado por: Lielle Serafim, em: 2009-01-17 21:24:48
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O Brasil está perto de ultrapassar os 123 milhões de linhas de celular, firmando-se na quinta posição mundial. E caminha para fortalecer o mercado de reposição de aparelhos, que no ano passado superou, pela primeira vez, o de novos assinantes.
Se por um lado a notícia beneficia operadoras e fabricantes, por outro acende uma luz amarela para o meio ambiente. A indústria começa a pôr em prática medidas para reduzir o impacto do descarte de telefones e baterias. O alcance destas providências, contudo, ainda é bastante limitado.
A julgar pelo tempo médio de substituição dos aparelhos, vê-se que o assunto é premente. A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) trabalha com uma média de três anos, mas há quem diga que, no Brasil, o usuário troca de celular a cada 18 meses, movido pelo lançamento de dispositivos mais sofisticados e pelo incentivo das operadoras, que chegam a dar aparelhos para reter clientes. A expectativa é de que a procura por celulares continue grande. A Abinee estima que o mercado interno vai absorver quase 62% dos 78 milhões de aparelhos a serem produzidos no País em 2008.
O número de aparelhos descartados anualmente, no Brasil e no mundo, continua uma incógnita. De acordo com enquete feita em março pela consultoria Teleco no ano passado, 35% de 583 participantes disseram guardar seus celulares velhos, 29% revelaram doá-los e 19%, vendê-los. Um total de 7% dos inquiridos informou que joga seus aparelhos antigos no lixo.
O problema é que ainda não há uma lei que discipline a destinação da sucata eletrônica. Recentemente, a Câmara dos Deputados encaminhou à Presidência da República um projeto de lei que lançará as bases da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Ao contrário dos aparelhos eletrônicos, o descarte de baterias tem a seu favor a resolução 257, baixada em junho de 1999 pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Pela norma, pilhas e baterias com metais tóxicos acima dos limites considerados perigosos para a saúde - como cádmio, chumbo, níquel e óxido de mercúrio - devem ser recicladas ou armazenadas. Fabricantes e importadores ficam responsáveis pelo recolhimento, armazenamento, transporte, reciclagem e disposição final destes artigos. Contudo, Marcelo Furtado, coordenador de campanhas do Greenpeace Brasil, diz que a norma é parcialmente cumprida, já que o volume de baterias produzidas é bem superior ao recolhido.
Enquanto a política de resíduos sólidos não fica pronta, operadoras e fabricantes de equipamentos vão ensaiando os primeiros passos. A partir deste ano, a Claro passa a se responsabilizar não só pelo recebimento destes equipamentos, mas também pela destinação dos componentes às recicladoras credenciadas por órgãos ambientais. Hoje, as lojas próprias da Claro possuem urnas coletoras. A empresa garante que, até junho, todos os pontos-de-venda, inclusive os 3,3 mil agentes autorizados da operadora, estarão equipados com a urna coletora.
A Vivo, dona de uma carteira com 33,7 milhões de clientes, recolheu no ano passado 131 mil aparelhos e cerca de 105 mil baterias pelo projeto Vivo Recicle seu Celular, programa que também recolhe acessórios. Com esta atividade, a empresa recebeu quase R$ 50 mil, dinheiro que foi doado à Audioteca Sal & Luz, que produz e empresta livros em áudio para pessoas com deficiência visual. O programa funciona desde novembro de 2006 nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal Espírito Santo, Goiás, Sergipe, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
A gerente de responsabilidade Sócio-Ambiental da operadora, Karinna Bidermann, disse que a iniciativa será estendida ao resto do País até o final deste semestre. "Agora a ação deixa de ser um projeto para ser um programa institucional", afirma a profissional. Uma das parceiras da Vivo neste programa é a Recellular, empresa americana que reaproveita telefones semi-novos. Os acessórios são encaminhados para a Interamerica, de São Paulo, enquanto as sucatas e baterias ficam com a Umicore, empresa belga com três fábricas em São Paulo.
A filial brasileira da Umicore fez no ano passado sua primeira remessa de materiais. Enviou à unidade da Suécia 30 toneladas de baterias recarregáveis, o que representa 3% da coleta que o grupo fez em 29 países. Os negócios estão caminhando depressa no País. Nos primeiros meses de 2008, já coletou 20 toneladas. Até abril, segundo o Gerente de Desenvolvimento de Negócios da Umicore, Ricardo Rodrigues, a companhia pretende exportar quase dez toneladas de aparelhos celulares. De acordo com o executivo, o avanço foi proporcionado pelo acordo fechado com a Motorola. Atento ao potencial do País, que tem exibido taxas crescentes de adições líquidas de clientes, Rodrigues se prepara para selar novas parcerias. "Do total de celulares em operação no País atualmente, de 10% a 20%, em média, chegam ao final de sua vida útil por ano."
Cerca de 40% da produção mundial da Umicore, que desenvolve, entre outros, catalisadores automotivos e materiais para a indústria eletrônica, vem da reciclagem. A empresa aproveita os plásticos como fonte de energia e, por meio de processos químicos, recupera os metais preciosos dos circuitos. Essa matéria-prima é vendida para a produção de novas baterias, por exemplo. A parte não-metálica que não se queimou é utilizada como agregado para concreto, reproduzindo na indústria a máxima que Lavoisier formulou sobre a natureza, onde "nada se perde, nada se cria, tudo se transforma".
Sustentabilidade na pauta mundial
A reciclagem de baterias e aparelhos celulares começa a se firmar na pauta das grandes empresas. Durante o Mobile World Congress, que aconteceu em fevereiro na cidade espanhola de Barcelona, o presidente da China Mobile, Wang Jianzhou, conclamou seus colegas a prestarem atenção na emissão de resíduos. Conforme disse, a campanha de coleta de baterias e celulares usados da empresa recolheu 3 milhões de itens em 2007, contra 60 mil em 2006. "E a quantidade vai aumentar."
A Nokia também estampou a sustentabilidade em seu discurso. A empresa aproveitou o congresso para lançar um celular cujos componentes são reaproveitados. O Nokia 3110 Evolve tem capas em matéria-prima orgânica feitas com mais de 50% de material reciclável. O presidente da fabricante finlandesa, Olli-Pekka Kallasvuo, falou que o produto marca uma nova etapa no uso de materiais recicláveis e reaproveitados. "Alguma coisa tem de mudar, precisamos nos dirigir a um modelo mais sustentável, incluindo práticas de reciclagem e economia de energia", diz.
Fonte: último segundo
http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo_virtual/2008/03/12/sustentabilidade_reciclagem_de_baterias_e_celulares_ganha_relevancia_1225867.html
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