Publicado por: Edson Lima, em: 2009-08-11 17:06:57
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O AUTOR NA PRAÇA, BAR DO BETO - BELTIQUIM CULTURAL & ELFOS MOTOCLUBE
Antecipam a celebração dos 10 anos sem Plínio Marcos e 50 anos da primeira montagem de “Barrela”, com uma leitura dramática do texto “Dois Perdidos numa noite suja”.
Em novembro de 2009, completam-se 10 anos sem Plínio Marcos e 50 anos da primeira montagem de “Barrela”, que teve uma única apresentação em Santos no dia 1º de novembro de 1959, depois disso permaneceu por 21 anos censurada. Para relembrar Plínio e suas histórias pela quebradas do mundaréu, estamos organizando leituras mensais de seus textos, iniciando em agosto com “Dois Perdidos numa noite suja”.
O texto é inspirado no conto O terror de Roma do escritor italiano Alberto Moravia. Dois personagens - Paco e Tonho - dividem um quarto numa hospedaria barata e durante o dia trabalham de carregadores no mercado. Todas as cenas se passam no quarto durante as noites. As personagens discutem sobre suas vidas, trabalho e perspectivas, mantendo uma relação conflituosa. O tema da marginalidade permeia todo o texto. Tonho se lamenta constantemente por não possuir um par de sapatos decente, fato ao qual atribui sua condição de pobreza. Ele inveja Paco que possui um bom par de sapatos e este, por sua vez, vive a provocar Tonho chamando-o de homossexual ao mesmo tempo em que o considera como um parceiro. Paco, que já havia trabalhado como flautista, certa noite teve sua flauta roubada quando estava muito embriagado, entorpecido. No final, na tentativa de melhorar suas vidas, ambos são compelidos à realização de um ato que modificará radicalmente suas vidas. (www.pliniomarcos.com)
Escrita em 1966, “Dois Perdidos numa noite suja” foi apresentada pela primeira vez no Bar Ponto de Encontro, que ficava no subsolo da Galeria Metrópole no centro de São Paulo. Nesta primeira apresentação atuou ao lado de Ademir Rocha e sob direção de Benjamin Cattan. Plínio conta como foi: “Ator pequeno, sem nome, sem carreira, sem nada, trabalhando de técnico na Televisão Tupi, ninguém convidava pra nada. Ninguém se lembrava que eu era também ator. Então escrevi uma peça com papel pra mim. Uma peça de dois personagens, inspirada num conto do Moravia, O Terror de Roma. Peguei o Ademir Rocha, que também estava desempregado, e chamei o Benjamin Cattan pra dirigir. E, como não tínhamos local, fomos estrear no Ponto de Encontro, um bar na Galeria Metrópole, que o Emílio Fontana conseguiu pra nós. O pessoal da técnica da Tupi ajudou a gente a afanar refletores, os praticáveis, as camas e tudo aquilo de que precisávamos para o cenário. O transporte foi feito pelo pessoal da garagem. O Toninho Matos e o Paulinho Ubiratan operavam luz e som.” Nídia Lycia e Bucka ajudaram Plínio a montar a peça emprestando dinheiro. Na estréia havia apenas 5 pessoas na platéia: a atriz Walderez de Barros, que foi sua mulher; Carlos Murtinho, a mulher do Ademir, um bêbado, que não quis sair porque aquilo lá era um bar, e o psicanalista Roberto Freire. A Cacilda Becker, quando viu a peça, comentou: “Incrível! Você conhece dez palavras e dez palavrões, e escreveu uma peça genial.” “Dois perdidos numa noite suja” já foi adaptado para o cinema duas vezes, a primeira em 1970, sob a direção de Braz Chediak com Nelson Xavier e Emiliano Queiroz e a mais recente no ano de 2002, sob a direção de José Joffily com Roberto Bomtempo e Débora Falabela. É uma das peças mais famosas de Plínio Marcos, tendo sido montada inúmeras vezes tanto no Brasil como em outros países.
Texto: Plínio Marcos / Direção: Cristina Barbanti / Elenco: Beto Carioca e Evandro Lima
Produção: Edson Lima / O Autor na Praça – 3739 0208 / 9586 5577 – edsonlima@oautornapraca.com.br
Data: 18 de agosto de 2009, Terça-feira, 20h
Entrada Franca – 30 lugares – 70 min.
Local: Bar do Beto – Beltiquim Cultural - Tel. 9523 6002 (Lú) ou 8249 8365 (Beto)
Rua Coronel Ferreira Leal, 98 - Jardim Bonfiglioli – Butantã
Travessa da Av. Eng. Heitor A. Eiras Garcia, no seu início, junto a Av. Corifeu de A. Marques)
Apoio: Sítio Oficial do Plínio Marcos, Revista Palco, Voz do Brasil e ELFOS MC
Sobre Plínio Marcos (www.pliniomarcos.com)
Plínio Marcos de Barros nasceu em Santos (SP) em 29 de setembro de 1935. Filho de família modesta, não gostava de estudar e terminou apenas o curso primário. Foi funileiro, sonhou ser jogador futebol, serviu na Aeronáutica e chegou a jogar na Portuguesa Santista, mas foram as incursões ao mundo do circo, desde os 16 anos, que definiram seus caminhos. Aos 19 anos já fazia o palhaço Frajola e pequenos papéis como ator em diversas companhias circenses e de teatro de variedades. Atuou em rádio e também na televisão local em Santos.
Em 1958, conhece a jornalista e escritora modernista Pagu — Patrícia Galvão. Ela e seu marido Geraldo Ferraz, também jornalista e escritor, abririam os horizontes intelectuais dos jovens atores envolvidos no movimento de teatro amador de Santos, inclusive Plínio, apresentando-lhes textos de dramaturgia moderna.
Nesse mesmo ano, impressionado pelo caso verídico de um jovem currado na cadeia, escreve BARRELA, cuja carreira seria premonitória da vida profissional do autor: por sua linguagem, ela permaneceria proibida durante 21 anos.
Em 1960, com 25 anos, está em São Paulo, atuando inicialmente como camelô. Logo estaria trabalhando em teatro, como ator, administrador, faz-tudo em grupos como o Arena, a companhia de Cacilda Becker, o teatro de Nídia Lycia. Desde 1963, produz textos para a TV de Vanguarda, programa da TV Tupi, na qual também atua como técnico. No ano do golpe militar, 1964, faz o roteiro do show NOSSA GENTE, NOSSA MÚSICA. Em 1965, consegue encenar REPORTAGEM DE UM TEMPO MAU, colagem de textos de vários autores, que fica um dia em cartaz.
Sob o signo da Censura, Plínio Marcos viverá até os anos 80, sem fazer concessões, sendo intensamente produtivo e sempre norteado pela cultura popular. DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA (1966), NAVALHA NA CARNE (1967), O ABAJUR LILÁS (1969) são sistematicamente perseguidos. Ele luta pela expressão com peças musicais como BALBINA DE IANSÃ (1970) e NOEL ROSA, O POETA DA VILA E SEUS AMORES (1977).
Escreve nos jornais Última Hora, Diário da Noite, Guaru News, Folha de S. Paulo (cadernos “Folhetim” e “Folha Ilustrada”) e Folha da Tarde e também na revista Veja, além de colaborar com diversas publicações, como Opinião, Pasquim, Versus, Placar e outras. Em forma de livro, publica suas peças, os contos de HISTÓRIAS DAS QUEBRADAS DO MUNDARÉU (1973) e o romance QUERÔ, UMA REPORTAGEM MALDITA (1976), depois adaptado para o teatro. O argumento original de A RAINHA DIABA (1974) consegue chegar às telas.
Depois do fim da Censura, Plínio volta a impressionar com o romance NA BARRA DO CATIMBÓ (1984), peças como MADAME BLAVATSKY (1985), textos de teatro infantil, a noveleta e depois peça O ASSASSINATO DO ANÃO DO CARALHO GRANDE (1995). Paralelamente, cresce sua presença como palestrante em várias cidades do país: ele chega a fazer 150 palestras-shows por ano, vestindo negro, com um bastão encimado por uma cruz e a aura mística de leitor de tarô — espécie de nova “personagem de si mesmo”, como fora antes a imagem do palhaço.
Traduzido, publicado e encenado em francês, espanhol, inglês e alemão; estudado em teses de sociolingüística, semiologia, psicologia da religião, dramaturgia e filosofia em universidades do Brasil e do exterior; Plínio Marcos recebeu os principais prêmios nacionais em todas as atividades que abraçou em teatro, cinema, televisão e literatura, como ator, diretor, escritor e dramaturgo.
Desde sua morte aos 64 anos em São Paulo, em 19 de novembro de 1999, as homenagens ao autor e o interesse em torno de sua obra só fizeram crescer, alcançando suas parcerias musicais com alguns dos mais importantes nomes do samba paulista, bem como novas montagens e filmagens de seus textos. Ao mesmo tempo, seu nome foi adotado para batizar prêmios e espaços culturais pelo país afora - inclusive o Teatro Nacional Plínio Marcos, de Brasília.
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