O Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) realizaram uma pesquisa e divulgaram dados alarmantes: quase 60 milhões de brasileiros estavam negativados no final do mês de junho. Este valor indica um crescimento de 1,5 milhões de nomes no cadastro de inadimplentes durante o primeiro semestre de 2017.
Em junho de 2016, o patamar estava em 59,1 milhões de pessoas com contas atrasadas. O número expressivo atual é reflexo das dificuldades que o cenário de desemprego elevado e queda na renda tem causado às milhares de famílias brasileiras. O total divulgado na pesquisa representa 39,6% da população com idade entre 18 e 95 anos.
A divisão por faixa etária indica que os brasileiros com idades entre 30 e 39 anos fazem parte do grupo que precisa sair das dívidas. Em junho deste ano, metade dessa população (50,44%) constava em listas de proteção ao crédito. Em números, esse percentual equivale a 17,2 milhões de pessoas.
Outras faixas de idade também possuem alto índice de inadimplência. É o caso dos brasileiros com 40 a 49 anos (47,79%) e aqueles com 25 a 29 anos (46,58%).
Os principais motivos para esse aumento de inadimplentes no país é a queda de renda, o aumento do desemprego, alta inflação, restrição ao crédito e juros altos. Com essas aspectos todos juntos, fica difícil para os consumidores manterem as finanças equilibradas.
Um estudo feito por uma empresa de recuperação de crédito chamada Recovery, em parceria com o Data Popular, revela que atualmente o brasileiro inadimplente possui uma dívida, em média, três vezes maior do que seu próprio salário. E, em alguns casos, os débitos podem ter até 20 origens diferentes.
A pesquisa também mostrou que parte das dívidas surgiu nos últimos três anos, coincidindo com o momento em que a economia brasileira enfrentou sérias dificuldades. Os fatores já citados, inflação, desemprego e baixa renda, são responsáveis direta ou indiretamente pelo total dos cerca de 60 milhões de consumidores endividados.
Este é o maior nível de inadimplência já verificado nos últimos cinco anos, segundo o Indicador de Inadimplência do Consumidor da Serasa Experian. Segundo a entidade, a característica mais marcante deste período turbulento é que o problema não é o excesso de endividamento, já que o acesso ao crédito está limitado no momento.
Mas o cerne da questão é dificuldade de honrar os compromissos financeiros por falta de verba. Em outras palavras, os brasileiros não estão pagando suas contas em dia porque não têm dinheiro suficiente na carteira.
Voltando para a pesquisa da Recovery, o perfil do inadimplente é bastante diverso e não está mais preso apenas nos estereótipos. Para se ter uma ideia, 25% dos endividados brasileiros pertence à classe alta e 40% têm ensino superior. Destes, 10% possuem ao menos uma pós-graduação no currículo.
No que se refere às dívidas, na média, cada brasileiro com problemas financeiros possui três débitos a pagar, num total de R$ 8.370. Apesar de muitos inadimplentes estarem com a carteira assinada, a queda na renda e o desemprego foram razões que impulsionaram o aumento das dívidas.
Entre os participantes da pesquisa da Recovery, 43% afirmaram que o desemprego foi o principal responsável pela dificuldade em manter as contas em dia. Outros 19% disseram que não possuem dinheiro suficiente para quitar seus débitos, já que 27% destes participantes são de classe mais baixa.
A partir dos dados apresentados, é possível perceber que está ocorrendo um novo panorama de inadimplência no país. Por outro lado, as instituições que encabeçaram os estudos apresentados acreditam que hoje em dia os brasileiros estão menos preocupados em ter o nome sujo e mais interessados em quitar as valores em um acordo mais justo.
Dessa forma, o que tem acontecido é que muitos endividados buscam melhores condições de pagamento, descontos maiores e juros menores. Contudo, essa postura só se torna realidade quando a empresa de cobrança traz à tona o valor da dívida.
Infelizmente, a maioria dos inadimplentes não faz ideia de quanto deve e quais são as taxas de juros a que estão submetidos. Esse comportamento nocivo fica explícito na pesquisa do Data Popular, onde registrou-se um percentual de 36% de pessoas com contas a pagar sem uma ideia real de quanto devem.
Essa realidade nos mostra que as consequências da desaceleração econômica no Brasil não são as únicas vilãs no combate à inadimplência. A falta de controle financeiro e a pouca educação financeira ainda na infância também pesam na hora dos brasileiros manterem o bolso saudável.