Segundo o budismo, a felicidade está no desapego, sobretudo do material. Quem a tudo renuncia jubiloso, alcança, já agora, a mais alta paz do espírito; mas quem espera vantagem das suas obras é escravizado pelos seus desejos.
Buddha, mais uma vez, tem razão e eu concordo plenamente.
Mas, me surpreende tanta gente buscando outro tipo de desapego: o sentimental. Como se o apego fosse resultar única e exclusivamente em dor, posse, angústia e medo. Sim, o apego pode gerar tudo isso, desde que você seja adepto àquelas frases clichês, como não consigo viver sem você ou só sou feliz com você do meu lado. Aliás, não só clichês, mas com um peso que desqualifica qualquer tentativa de amor próprio. Afinal, como querer ser feliz com alguém se quando sozinho a felicidade não é plena? Que direito temos de depositar no outro toda a responsabilidade pela nossa própria alegria?
Porém, me parece que as pessoas - diante de tantas desilusões - tem se esquecido da parte boa do apego. O apego ao carinho, ao cheiro, à vontade de estar junto. O apego no seu sentido mais amplo e puro. O apego natural de quando se ama.
Pois, pra mim, o amor verdadeiro vem sim com o apego.
O apego da soma, do cuidado, da dedicação.
Eu quero mesmo é estar pegada, apegada, "grudada". Quero pegar e me apegar. Também quero sentir ciúmes, ansiedade e insegurança. Ou tenho que me privar desses sentimentos para entrar na seleta categoria dos "evoluídos"? Afinal, tais comportamentos fazem parte também do equilíbrio humano e quer queira ou não, em algum momento tais sensações estarão lá, marcando presença, com ou sem o apego. Pra mim, o sábio não é evitar senti-los, mas saber equilibrar a duração e a intensidade deles.
Sabedoria não é o auto controle absoluto, mas a permissão de sentir as mais diferentes emoções.
Por isso, eu me permito.
Escolho me apegar.
E me apego de verdade!
Karina Cardoso