Em coletiva de imprensa em Genebra, a chefe do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Henrietta Fore, alertou na segunda-feira (2) que uma criança morre a cada dez minutos no Iêmen, país devastado por uma guerra entre rebeldes Houthi e uma coalizão de países liderada pela Arábia Saudita. Confrontos armados deixaram 80% da população abaixo da linha da pobreza. Cerca de 8,4 milhões de pessoas estão à beira da fome.
“Vinte e duas milhões de pessoas em necessidade, isso é um número extraordinário. Dessas, 11 milhões são crianças”, afirmou a dirigente. O número de jovens precisando de assistência para comer, receber cuidados médicos, ter água, saneamento e educação, é maior do que a população da Suíça, acrescentou Fore.
Em viagem de quatro dias ao Iêmen, a chefe do UNICEF visitou a capital Sanaa e Áden, onde a agência da ONU mantém parte dos 250 funcionários que operam no país. Desde 2015, com o início do conflito, mais de metade das unidades de saúde deixaram de funcionar e mais de 1,5 mil escolas foram destruídas por ataques aéreos e bombardeios. Pelo menos 2,2 mil crianças foram mortas e 3,4 mil ficaram feridas em meio aos confrontos.
“Não há justificativa para essa carnificina”, condenou Fore, que lembrou que os números de vítimas dizem respeito apenas aos casos registrados e verificados pelo UNICEF. “Os valores reais podem ser até maiores.”
O foco mais recente da crise é a cidade portuária de Hodeida, porta de entrada para a ajuda humanitária e importações. O município está sob a ameaça iminente de uma ofensiva liderada pelos sauditas. Nas últimas duas semanas, cerca de 5 mil famílias deixaram o local, onde faltam mercadorias básicas, como farinha e gás de cozinha. Na maior parte de Hodeida, não há eletricidade e o sistema de abastecimento de água foi danificado, causando mais escassez.
Em uma das unidades de saúde que visitou, Fore viu uma criança de oito meses que tinha o peso de um recém-nascido. Em uma unidade de tratamento neonatal intensivo, a chefe do UNICEF soube de um caso de gêmeos siameses que não podiam fazer a cirurgia de que precisavam para sobreviver. Nas clínicas, profissionais de saúde estão sobrecarregados e muitos não recebem há dois anos.
“Estamos comprometidos em fazer tudo que podemos para ajudar as crianças e os jovens do Iêmen, mas deveria haver uma solução política para o conflito”, enfatizou a dirigente.
“A proteção de crianças — contra minas, recrutamento, exploração e ataques — deve permanecer primordial a todo momento”, completou Fore.