Jornadas excessivas de trabalho sem remuneração adicional, acúmulo de funções, remuneração baixa mesmo em se tratando de um dos setores da economia que mais cresce no mundo, episódios frequentes de assédios moral e sexual e baixo grau de proteção institucional aos empregados. Essa é a realidade com a qual trabalhadoras e trabalhadores do setor hoteleiro têm de conviver diariamente, em especial as camareiras – a subcategoria mais numerosa e considerada a mais desprotegida e explorada do segmento.
A receita dos hotéis brasileiros registra dez anos seguidos de crescimento, segundo dados consolidados de 2014 da pesquisa “Hotelaria em números”, realizada há 22 anos pela consultoria JLL. Com a desvalorização do real em relação ao dólar a partir de 2013, o Brasil atraiu mais estrangeiros e, mesmo em cenário de crise política e econômica, todo o setor hoteleiro se expandiu. Após a Copa do Mundo de 2014, o cenário dos dados relativos a 2015, a ser divulgado, tende a ser ainda melhor, por conta da expectativa criada em torno das Olimpíadas no Rio de Janeiro.
A Organização Mundial do Turismo, ligada às Nações Unidas, informou que mais de um bilhão de pessoas cruzaram alguma fronteira em viagens de lazer em 2015. As estimativas da organização para 2030 é que haverá quase duas bilhão de chegadas turísticas internacionais.
O principal problema apontado por especialistas do setor é o excesso de horas trabalhadas, uma preocupação da categoria como um todo. Jornadas excessivas de mais de 60 horas semanais foram citadas pelos trabalhadores em pesquisa realizada em 2015 pela Contracs (Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços), entidade ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), em parceira com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudo Socioeconômicos).
Dentre todas as categorias, o elo mais desprotegido da cadeia hoteleira é a classe das camareiras. No Brasil, os dados mais recentes fornecidos pela Contracs indicam que 66 por cento sofrem de ansiedade por causa do trabalho; 61 por cento têm falta de energia no desenvolvimento das atividades do dia-a-dia; e 51 por cento se queixam de má qualidade do sono.
Essas trabalhadoras têm obrigações como ter de limpar até 30 quartos em uma jornada média de oito horas, o que traz sérios riscos à saúde. Os registros de lesões graves e crônicas, em articulações, na lombar, nas mãos, o desenvolvimento de algum tipo de transtorno musculoesquelético (TME) ou de alguma lesão por esforços repetitivos (LER) e a contaminação por produtos químicos, entre outras moléstias, são numerosos. (pulsar/repórter brasil)