“Estamos aflitos, sem saber o que fazer”. Assim relatou Sorivan Madija kulina ao informar sobre o clima tenso na cidade de Juruá, localizada a 672 quilômetros em linha reta de Manaus, a capital do estado do Amazonas.
Desde segunda-feira (27) têm acontecido manifestações da população daquela cidade contra a presença dos indígenas após a ocorrência de um crime supostamente cometido por dois Madija Kulina.
A vítima se chamava Moisés Lima, de aproximadamente 60 anos. O corpo foi encontrado na manhã de segunda-feira, depois de uma busca feita por familiares e amigos nas proximidades do Sacado do Planeta. A suspeita do homicídio recai sobre Turosso Madija Kulina, da aldeia Beiradão e Dimodo Madija Kulina, da Aldeia Mapiranga.
Na tarde da última terça-feira (28) uma criança de 10 e outra de 12 anos que supostamente estavam na companhia dos acusados teriam sido levadas ao Batalhão de Polícia Militar para depor sem a companhia dos responsáveis ou do Conselho Tutelar. Na madruga da última quarta-feira (29) integrantes do Grupamento de Polícia Militar se deslocaram para a aldeia em busca dos acusados.
Os Madija Kulina da região do rio Juruá têm sido alvo de preconceito por moradores das cidades. Em fevereiro de 2014 uma portaria assinada pelo juiz estadual Leoney Figliuolo Harraquian, da Comarca de Eirunepé (AM), proibia a venda de bebidas alcoólicas a indígenas e restringia a permanência deles no prazo máximo de 48 horas na sede da cidade.
Em Juruá, populares estão ameaçando fazer justiça com as próprias mãos, como informa o comandante do décimo Grupamento de Polícia Militar local, tenente Ageu de Araújo. Em carta ao Batalhão de Polícia Militar sediado na cidade de Tefé, datada de 28/08/2018, ele destaca que não há representante da Fundação Nacional do Índio (Funai) naquela cidade e que teria comunicado à representação do órgão em outro município mas não obteve qualquer resposta.
O fato foi comunicado ao Ministério Público Federal (MPF) e Polícia Federal (PF) pela coordenadora técnica local da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Carauari, Ercília da Silva Vieira.
Os indígenas estão sendo forçados a permanecerem em suas casas, impedidos de sair para trabalhar temendo sofrer agressões por parte de populares. Na cidade de Juruá residem cerca de 30 famílias Madija Deni. A maioria morava nas aldeias da terra indígena Lago do Ualá, localizada naquele município. (pulsar/agência porantim)
*Informações do Conselho Indigenista Missionário – CIMI Regional Norte I (AM/RR)