As supostas ações de intimidação do ministro da Justiça, Sérgio Moro, contra o site The Intercept Brasil, que vem revelando conversas que comprovam a falta de isenção do então juiz e dos procuradores da Operação Lava Jato, provocaram reações de jornalistas brasileiros e estrangeiros. Entidades e organismos internacionais também se manifestaram contra o que classificam como ameaça à liberdade de imprensa.
Segundo o site O Antagonista, que atua como porta-voz da Lava Jato, a Polícia Federal (PF), comandada por Moro, teria pedido ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que investigasse as contas do jornalista norte-americano Glenn Greenwald, fundador e editor-chefe do Intercept. Em audiência na Câmara dos Deputados na última terça-feira (2), Moro não confirmou, nem negou a iniciativa.
Para a jornalista Eliane Brum, colunista do jornal El País Brasil, se confirmadas as suspeitas sobre a tentativa de Moro de intimidar Greenwald, seria “um total, inacreditável abuso de poder” e “um dos maiores ataques à liberdade de imprensa já feitos, um “escândalo só visto nos governos mais autoritários do mundo”.
A colunista da Folha de S.Paulo e da Bandnews Mônica Bergamo destacou que Moro se diz “grande defensor da liberdade de imprensa”, mas atua para intimidar o jornalista que revelou suas conversar nada republicanas. “É estranho sim ver a polícia do denunciado devassando a vida do denunciante”, afirmou o jornalista Fábio Pannunzio, da Bandeirantes. “Botar o Coaf para fuçar sua vida financeira é um acinte. Atacar o sigilo da fonte é o mesmo que atentar contra um dos mais sagrados direitos individuais.”
Em nota conjunta, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ONU) se pronunciaram contra as “ameaças, desqualificações e intimidações” ao jornalista do The Intercept. Eles instaram as autoridades brasileiras a fazer uma investigação “completa, efetiva e imparcial” sobre as ameaças a Greenwald e sua família. “Assim, recorda-se às autoridades brasileiras suas obrigações em prevenir e proteger os jornalistas em risco e garantir a confidencialidade de suas fontes de informação”.
A Fundação para Liberdade de Imprensa (Freedom of the Press Foundation), dos Estados Unidos, também pediu que o governo brasileiro “suspenda imediatamente” as ações de intimidação. “Não é apenas um ataque ultrajante à liberdade de imprensa, mas um abuso grosseiro de poder. Os jornalistas não devem se preocupar com assédio, ameaças de morte ou enfrentar investigações do governo por relatar a verdade sobre pessoas poderosas.”
“Se há uma investigação em curso por se fazer jornalismo ela é ilegal e trata-se de uma tentativa de intimidação” afirmou o coordenador do Observatório da Liberdade de Imprensa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Pierpaolo Bottini, que também é professor de Direito Penal da Universidade de São Paulo (USP). (pulsar/rba)