Os agentes de Estado, sobretudo políticos, aparecem como os principais suspeitos de violações graves contra profissionais de imprensa (jornalistas, radialistas, blogueiros e donos de veículos de comunicação). A conclusão faz parte do relatório “Violações à Liberdade de Expressão – Relatório Anual 2016” que a organização Artigo 19 lançou na última quarta-feira (3), Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.
Dos 31 casos levantados ao longo de 2016, mais de 60 por cento teriam políticos como suspeitos das violações. Foram 22 ameaças de morte, quatro assassinatos e cinco tentativas de assassinato.
Outro dado preocupante é que em 39 por cento dos casos de graves violações contra comunicadores não houve a abertura de investigação por parte da polícia. Para a Artigo 19, o número pode ser visto como um dos “sintomas da falta de capacidade e iniciativa do Estado brasileiro em lidar com a questão”.
A análise sobre o tipo do veículo de comunicação no qual a vítima atuava revela que em mais da metade dos casos (52 por cento) o comunicador estava ligado a veículos considerados alternativos – como blogs e pequenos jornais impressos –, enquanto o número de graves violações registradas em veículos comerciais foi de 42 por cento.
Na divisão por região do país, o relatório identificou que a maior parte dos casos foi registrado em estados do Nordeste: 45 por cento. Porém, o estado em que a Artigo 19 registrou o maior número de graves violações foi São Paulo, que, sozinho, concentrou 16 por cento dos casos.
Segundo a organização, uma das razões para estes números é a de que, em cidades pequenas, os comunicadores estão mais em evidência, pois há um número menor de veículos e de profissionais de comunicação, tornando a atividade de denunciar irregularidades ou emissão de críticas mais arriscada.
Júlia Lima, coordenadora da área de Proteção e Segurança da ONG, afirma que o cenário de violações à liberdade de expressão de comunicadores permanece basicamente o mesmo nos últimos cinco anos e que, mesmo assim, o Estado brasileiro não avançou praticamente em nada para lidar com a questão. Como resultado, nós temos um cenário de violência que tem se intensificado cada vez mais. (pulsar/artigo 19)