Desde que os 43 estudantes da escola normal de Ayotzinapa desapareceram, em setembro do ano passado, o governo do presidente Enrique Peña Nieto deu uma série de explicações e declarações, muitas vezes contraditórias, e que não convenceram os pais, familiares, especialistas forenses estrangeiros e os milhares de mexicanos, que protestaram em todo o país. Agora, uma investigação do site The Intercept traz evidências que indicam que o sumiço dos jovens, até então sem respostas, foi caso de desaparecimento forçado.
Para a organização sem fins lucrativos Human Rights Watch, em um informe de 2013, o México vive “a crise mais profunda em matéria de desaparecimentos forçados na América Latina nas últimas décadas”. À diferença do sequestro, “o desaparecimento forçado inclui a participação ativa ou passiva de oficiais estatais e pode constituir crime de lesa humanidade”.
Enquanto o crime de sequestro pode levar a uma sentença mais longa de prisão no México do que a de desaparecimento forçado, as consequências para o Estado são mínimas, porque o crime é atribuído só ao acusado e assim o governo mexicano se exime de suas responsabilidades. A investigação afirma que ao apresentar o desaparecimento dos estudantes como um fato isolado de sequestro e crime organizado, “o governo federal parece construir um cenário no qual suas obrigações com os pais se encerra, sua reputação internacional e assistência de segurança permanecem preservadas, enquanto os documentos relacionados ao caso se mantêm privados”.
O texto investigativo dá conta de que apesar da pouca clareza a respeito dos motivos do desaparecimento dos jovens e o local para onde foram levados, as declarações que constam nos arquivos federais revisados pelo site revelam que “organizações criminosas da região tomaram o controle da zona, expondo assim a corrupção que se impregnou em muitas estruturas do governo em Guerrero”.
De acordo com a Human Rights Watch, no México as investigações sobre desaparecimento forçado se caracterizam por falhas sistemáticas como o manejo das evidências e a negligência em preservar o local do crime. Foi o que ocorreu em Guerrero. A The Intercept visitou o lixão de Cocula onde supostamente morreram os jovens quatro dias após o governo ter declarado a região como lugar provável do massacre, sem nenhum impedimento. Outra questão que leva ao desaparecimento forçado é a intenção do governo de tentar convencer os familiares de que seus entes queridos estão mortos sem nenhuma prova substancial. (pulsar/opera mundi)