Apesar da crescente inserção das mulheres no mercado de trabalho, elas continuam a dedicar muito mais tempo que os homens às atividades de cuidado e afazeres domésticos. No ano passado, mulheres trabalharam 20,9 horas por semana nessas atividades, quase o dobro das 10,8 horas dedicadas pelos homens. Os dados fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2017 (PNAD Contínua), divulgada na última quarta-feira (18) pelo IBGE.
Entre as mais de 88 milhões de mulheres de 14 anos ou mais, 92,6 por cento delas fizeram essas duas atividades no ano passado, uma leve alta frente aos 90,6 por cento de 2016. Já a proporção de homens aumentou de 74,1 por cento, em 2016, para 78,7 por cento dos 80 milhões e meio de pessoas do sexo masculino nessa faixa de idade.
Segundo a analista de Trabalho e Rendimento, Alessandra Brito, os resultados demonstram que “é uma questão que ainda vai demorar um pouco para ser equilibrada. É uma mudança estrutural, que leva mais tempo, é preciso uma mudança de mentalidade. Todo mundo avançou, mas a proporção de mulheres aumentou menos, porque elas já tinham uma taxa muito alta”.
Ainda de acordo com a pesquisa, as diferenças também são relevantes entre as pessoas ocupadas e as não ocupadas – que são aquelas que não exercem trabalho remunerado por estarem desempregadas ou fora da força de trabalho.
Nesse universo, as mulheres ocupadas dedicaram 7,8 horas a mais do que os homens nas atividades domésticas. Entre as não ocupadas, a diferença salta para 11,2 horas. De acordo com Alessandra, “para os homens não muda muito se ele é ou não ocupado, isso afeta mais a mulher. Quando no mercado de trabalho, ela fica com menos horas disponíveis para fazer tripla jornada: cuidados, afazeres e trabalhar fora”.
Alessandra ressaltou que a PNAD Contínua permite identificar algumas atividades que antes eram invisíveis: “eram trabalhos que não eram medidos. Por exemplo, se uma pessoa deixa de trabalhar para cuidar de uma criança, esse trabalho não é precificado, mas a contratação de uma babá entra na conta do PIB, pois existe um valor de mercado para isso. O objetivo é que, em algum momento, essas informações entrem no Sistema de Contas Nacionais”. (pulsar/carta capital)