O estudante indígena da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Nerlei Kaingang foi espancado em frente à moradia estudantil da instituição de ensino, no centro de Porto Alegre.
A agressão ocorreu no sábado (19). Segundo o relato do indígena Kaingang, que é cotista da universidade federal e estuda Medicina Veterinária, os jovens insultaram de forma racista ele e outro indígena que o acompanhava, que é seu sobrinho.
A violência foi filmada pelas câmeras de segurança da universidade e mostra os indígenas passando por um grupo de homens. No vídeo, é possível ver que, após passar duas vezes pelo grupo, o indígena dá meia volta e se dirige a eles. Após alguns minutos de discussão, os homens começam a agredir os indígenas.
Segundo os Kaingang agredidos, em pelo menos dois momentos os agressores disseram “o que esses indígenas estão fazendo aí?”, questionando a presença indígena na casa do estudante.
Depois das covardes agressões feitas por um grupo de pelo menos seis homens, Nerlei perdeu os sentidos e foi socorrido pelo sobrinho, que o acompanhava e conseguiu se esquivar dos agressores. Na segunda-feira (22), um boletim de ocorrência foi feito e um inquérito para investigar as agressões e o crime de racismo já foi aberto pela Superintendência Regional da Polícia Federal no Rio Grande do Sul. O indígena também já fez exame de corpo de delito, cujo laudo deve ficar pronto em breve.
Segundo testemunhas ouvidas pelo advogado de Nerlei, Onir Araújo, os agressores seriam todos estudantes, a maioria deles do curso de engenharia da UFRGS, e pelo menos dois estudantes da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).
O Kaingang agredido está bastante abalado com a situação e não está frequentando as aulas de seu curso. Além disso, Araújo conta que ele está sendo vítima de uma campanha de difamação feita pelos agressores. Ele também destaca que houve negligência na defesa e na prestação de socorro a Nerlei. Segundo o advogado, a segurança da casa do estudante, que funciona 24 horas, não fez nada e só entrou em contato com a direção da casa para relatar o ocorrido na segunda-feira.
Para Onir, existe no sul do país um forte sentimento de racismo e de intolerância contra os povos indígenas, que acaba sendo fomentado e difundido por diferentes agentes públicos.
Além da investigação policial que está sendo feita na Superintendência Regional da Polícia Federal no RS, também foi aberto um procedimento administrativo interno na UFRGS para averiguar o caso e tomar as providências cabíveis dentro da universidade. (pulsar/cimi)