Construído para acomodar os moradores removidos da Vila Autódromo ao custo de 105 milhões de reais, o Parque Carioca tem sido amplamente utilizado pela administração do prefeito Eduardo Paes (PMDB) como um modelo exemplar do programa Minha Casa Minha Vida. No entanto, vários moradores da Vila Autódromo resistiram durante muito tempo à mudança de sua comunidade para este complexo habitacional público e as condições não refletem o discurso da administração municipal.
Ainda recentemente, o prefeito insistia que todos os moradores que deixaram a Vila Autódromo estavam felizes em partir e que as 341 famílias reassentadas no Parque Carioca estavam satisfeitas com a gestão das unidades habitacionais. Eduardo Paes afirma que as famílias saíram por vontade própria. Isso contradiz relatos dos moradores sobre a constante pressão para saírem, com a Prefeitura forçando lentamente as famílias para fora, usando medo, intimidação e alimentando a desunião.
A remoção para o Parque Carioca deveria fornecer casas por meio de uma “troca de chaves”, que significa a simples troca de uma casa por outra, com os mesmos direitos e sem pagamentos extras. Em vez disso, a Caixa Econômica Federal pagará 120 parcelas mensais durante dez anos, o que significa que os moradores não podem realmente vender suas casas, e por consequência terão que permanecer no local sendo bom para eles ou não, até que os pagamentos tenham terminado.
Moradores mostraram-se também preocupados com a segurança e bem estar das pessoas no Parque Carioca. Alguns estão profundamente insatisfeitos com a qualidade dos prédios construídos em 2013. A Prefeitura descreve o Parque Carioca como “um empreendimento com padrão classe média”. Porém, já existem relatos de casos de infiltrações e vazamentos.
Moradores ainda reclamam das altas temperaturas nos prédios, já que praticamente não há árvores no complexo e a circulação de ar é pouca. Apesar do material promocional do Parque Carioca citar a inexistência de insetos e mosquitos, tubos de drenagem estão abertos próximos dos pátios de alguns prédios, fazendo com que a água parada e os insetos sejam um problema. O Zika vírus já era uma preocupação para osmoradores da Vila Autódromo devido às poças de água parada geradas pela demolição de casas e pela construção do Parque Olímpico, e ao que parece eles não escaparam do problema após a mudança.
Alguns moradores mostraram-se arrependidos da decisão de mudar-se para o Parque Carioca e dizem que foram pressionados a isso. Eduardo Paes tem falado continuamente que não forçou ninguém a sair e que qualquer pessoa que quisesse permanecer na comunidade poderia, mas os moradores dizem que foram comunicados por agentes municipais que não teriam escolha e acabariam sendo forçados a sair, portanto optaram pela mudança para reduzir o risco de maiores problemas.
Além das histórias individuais dos moradores, a situação no Parque Carioca representa um problema muito maior, que é a disparidade contínua entre políticas no papel e na implementação. Com isso, mesmo depois das remoções concluídas e das 20 famílias que vão permanecer na comunidade, os olhos precisam continuar voltados para a Vila Autódromo e as violações que ainda podem ocorrer. (pulsar)
*Com informações do Rio On Watch