No Brasil, a utilização de sementes transgênicas chegará a 93,4 por cento nas plantações de soja, algodão e milho. Segundo a Consultoria Céleres, empresa especialista em análises do agronegócio, o país possuirá mais de 49 milhões de hectares destinados a sementes geneticamente modificadas para estas culturas na safra 2016/2017.
Esse dado também torna o Brasil o segundo maior produtor de transgênicos do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos, que aprovou o cultivo e consumo de seu primeiro alimento transgênico nove anos antes do Brasil. Apesar do domínio da tecnologia no território brasileiro, há poucas respostas concretas sobre seus efeitos: ainda existe muita controvérsia em relação aos possíveis danos à saúde e ao meio ambiente e acerca da soberania alimentar da população.
Para Rubens Nodari, pesquisador e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a posição alta do Brasil nos rankings da bioctenologia se relaciona com a aprovação ‘tardia’ da cultura no país – o que significa que, enquanto nos outros países começa a haver um retrocesso nas plantações, no território brasileiro ela ainda está em expansão.
Uma das maiores promessas dos transgênicos era a possível diminuição do uso dos defensivos, o que não aconteceu no Brasil. Segundo o Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), entre 2000 e 2012 o uso de agrotóxicos cresceu em 288 por cento. Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mesmo sem buscar traços do glisofato, principal defensivo usado no país, detectou que 64 por cento dos alimentos dos brasileiros estão contaminados por agrotóxicos.
E quando o agrotóxico não se dispersa no ar, ele pode se alojar no organismo. Essa é a explicação para os traços de agrotóxicos que foram encontrados no leite materno de mulheres do município de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. A informação, divulgada em dossiê da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), ressalta que entre os riscos da exposição – inclusive aos recém-nascidos – estão as intoxicações agudas, como convulsões ou vômitos, ou efeitos crônicos a longo prazo, a exemplo de cânceres ou más-formações congênitas.
Para o meio ambiente, há indícios de contaminação da água de mananciais. Para o pesquisador Rubens Nodari, “O aumento de agrotóxicos é um efeito indireto dos transgênicos, mas é uma questão brutal”.
A produção transgênica é alvo de uma série de projetos de lei, como a recente tentativa de retirar o aviso de traços transgênicos dos rótulos de alimentos (PLC 34/2015). Atualmente, está em discussão o PL (Projeto de Lei) 827/2015, que modifica a Lei dos Cultivares. O principal ponto de mudança é a previsão de que o agricultor pague royalties sobre sementes que foram guardadas para uso próprio. Ou seja: produtores que salvam sementes de uma safra para outra precisariam pagar, novamente, royalties às empresas. (pulsar/brasil de fato)