A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, aprovou na última quinta-feira (8) a liberação comercial da cana de açúcar transgênica, voltada para a produção de açúcar, álcool e biodiesel. A votação, que terminou com 15 votos favoráveis e três contrários, ocorreu sob forte esquema de segurança para reprimir possíveis manifestações contra a aprovação da planta geneticamente modificada com a inserção de uma toxina capaz de matar sua principal praga, a lagarta Diatraea saccharalis, mais conhecida como broca da cana. Do lado de dentro, diretores do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), que desenvolveram a biotecnologia, comemoraram.
O CTC é uma empresa de capital aberto, sediada em Piracicaba, São Paulo, que tem grandes usineiros e produtores de cana entre seus maiores acionistas. O argumento do setor, defendido pelo voto dos 15 integrantes, é que a broca causa perdas anuais de cinco bilhões de reais em um setor dominado por 360 usinas que movimentam mais de 100 bilhões ao ano. Uma perda que justificaria o investimento em torno de 140 milhões de dólares, conforme especulação no mercado de biotecnologia.
Os três votos contrários são de um representante do Ministério do Meio Ambiente e de especialistas em meio ambiente e agricultura familiar, que analisam os estudos apresentados pelo CTC desde o final de dezembro de 2015, quando foi protocolado o pedido de liberação. Eles chegaram à conclusão de que, a exemplo de todos os demais organismos geneticamente modificados (OGMs) aprovados na comissão, as pesquisas com a cana são cheias de falhas. E estão muito longe de atender às próprias regras do órgão criado para auxiliar o governo federal nas questões de biossegurança dos transgênicos.
No caso da cana, há lacunas quanto aos potenciais efeitos sobre organismos que não são o alvo das toxinas da planta modificada, aos animais e humanos que consumirem a cana in natura, e o risco de essas novas espécies virem a prevalecer sobre as espécies silvestres a partir dos cruzamentos entre ambas. Como a maioria das cachaças e o popular caldo de cana são obtidos com essas variedades silvestres, num cenário assim essas bebidas também poderiam vir a ser contaminadas.
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A falta de estudos do CTC sobre o cruzamento da cana geneticamente modificada com outras espécies silvestres muito comuns no país, que pode levar ao desaparecimento de muitas dessas espécies, é vista com preocupação pelo pesquisador do Ministério do Meio Ambiente e ex-integrante da CTNBio, Rogério Magalhães. Para ele, a empresa tem a obrigação de fazer as pesquisas necessárias e de responder todas as perguntas.
Apesar das dúvidas e riscos, a CTNBio coloca no mercado uma variedade de cana aguardada por ruralistas e usineiros. A expectativa, segundo Magalhães, é que boa parte da safra de 2018 e 2019 seja colhida em canaviais geneticamente modificados. (pulsar/rba)