A Pastoral Carcerária Nacional manifestou repúdio ao pacote anunciado na última segunda-feira (4) pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, ampliando prisões, dificultando progressões penais e liberando as polícias para matar. “A maioria da população carcerária é composta de jovens, negros e pobres, que em sua maioria só conhecem uma política pública do estado: a prisão. Enquanto esse cenário não mudar e se pensarem políticas públicas favoráveis ao desencarceramento e ao fim da desigualdade social, a violência em todo o país só tende a crescer”, diz a entidade.
Moro propõe a alteração de 14 itens do Código Penal, Código de Processo Penal, Lei de Execução Penal, Lei de Crimes Hediondos e Código Eleitoral. O projeto será enviado ao Congresso Nacional, para debate e votação. O ministro defende que tais mudanças objetivam “combater crimes violentos, organizações criminosas e a corrupção” no país.
“Uma das propostas do ministro é formalizar as prisões em segunda instância, que ignoram o conceito da presunção da inocência e colocam atrás das grades muitas pessoas que não tiveram sua sentença definida”, avalia a organização. O Brasil é o país com a terceira maior população carcerária do mundo, com cerca de 725 mil presos. “E a violência não deixa de aumentar por conta disso, pois o cárcere em si é alimentador do círculo de violência”, destaca a Pastoral.
Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) revelam que cerca de 40 por cento da população prisional é composta por presos provisórios. “E essa medida só vai agravar este cenário, superlotando ainda mais as prisões”, completa a Pastoral. Advogados e organizações de direito também criticaram duramente as propostas de Moro.
Outra medida que preocupa a organização é a alteração do artigo 25 do Código Penal. A proposta considera como legítima defesa que agentes policiais ou de segurança pública atirem e matem supostos suspeitos para prevenir agressões em conflitos armados. A proposta prevê que o juiz poderá reduzir a pena (do policial) até a metade ou deixar de aplicá-la se o excesso decorrer de escusável medo, surpresa ou violenta emoção.
“Esse ‘excludente de ilicitude’ irá diminuir as investigações de mortes cometidas por policiais, dando margem para o aumento da letalidade policial, que já é uma das maiores do mundo: segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, cinco mil 144 pessoas foram mortas pela polícia brasileira em 2017, o que correspondeu a oito por cento de todos os assassinatos do país”, diz a entidade. (pulsar/rba)