Após ser vítima da maior tragédia ambiental do país, o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, Minas Gerais, será novamente coberto por rejeitos de minério. A denúncia do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) é de que não há limite claro para o alagamento a ser feito com o dique S4, obra da empresa para estocar lama em cima de Bento Rodrigues. A Samarco, de propriedade da Vale e BHP/Billiton, alega urgência e risco de segurança com época de chuvas.
O rompimento da barragem de Fundão, em novembro de 2015, trouxe à Samarco o impasse de como estocar os rejeitos de anos de exploração da mina Germano. O local já possui três diques, que retêm mais de dois milhões de metros cúbicos. Com o dique S4, a mineradora passaria a ter um milhão de metros cúbicos a mais em sua capacidade de armazenamento. Esse volume, segundo a Samarco, é necessário para garantir que as barragens ou diques não se rompam durante a época chuvosa.
A área a ser alagada corresponde a 55 propriedades e atinge patrimônios culturais como a Estrada Real, os vestígios de um muro arqueológico, um muro colonial e a Capela de São Bento, do século 18. Capela e cemitério terão de ser protegidos por um tapume, segundo a mineradora. Além disso, o dique impossibilita que pessoas e visitantes cheguem pela estrada convencional até a comunidade, que se tornou um “museu da tragédia”.
Uma das proprietárias do terreno onde a empresa faz a obra, Lucimar Muniz, é crítica ao empreendimento e afirma que moradores de Bento também são. Para ela, “permitir a construção do dique S4 é compactuar com esse crime contra uma comunidade que merece ter sua memória viva”.
A mineradora iniciou a construção em junho deste ano, quando foi flagrada pela Polícia Militar do Meio Ambiente. A empresa desmatou, perante o derramamento de minério, cerca de mil hectares de floresta de áreas de conservação ambiental. A atitude rendeu multa de seis milhões de reais à Samarco, mas moradores denunciam que as obras continuaram.
Mesmo com as manifestações de moradores e movimentos, o governo estadual emitiu em 21 de setembro a desapropriação dos terrenos e a autorização para construir do dique, por meio de decreto. Em nota, o governo admite que o licenciamento ambiental não existe e que será feito posteriormente, de forma “corretiva”. Em contraposição, o Ministério Público de Minas Gerais continua cobrando postura mais ativa da empresa para reparar os estragos que causou.
Os atingidos realizarão uma marcha para lembrar o primeiro aniversário do crime. Eles saem de Regência, Espírito Santo, no dia 31 de outubro e devem chegar a Mariana no dia dois de novembro, em ação organizada pelo Movimento de Atingidos por Barragens (MAB). Nos dias três e quatro, ficam reunidos em Mariana, onde serão promovidos debates sobre os motivos do rompimento da barragem. No dia cinco, está previsto um ato público com o lema “Bento Rodrigues pertence aos moradores e não à Samarco”. (pulsar/brasil de fato)