O uso das forças armadas para reintegração de posse no campo, prometido pelo presidente Jair Bolsonaro à imprensa nesta segunda-feira (25), corresponde a um movimento para tentar criminalizar movimentos sociais. A avaliação parte não só de representantes dos próprios movimentos, mas também de estudiosos e observadores das questões relativas ao direito à terra e à reforma agrária.
O presidente afirmou que estuda enviar ao Congresso Nacional um projeto prevendo a aplicação de ações da chamada Garantia da Lei e da Ordem (GLO) em situações de ocupação de terra. O tema voltou ao debate nacional na semana passada com a apresentação pelo governo do novo projeto de lei que propõe a ampliação do excludente de ilicitude para militares que atuarem em operações de GLO. Nas palavras de Bolsonaro nesta segunda, o uso da GLO no campo serviria “para chegar e tirar o cara da propriedade”, processo que, segundo ele, vem sendo protelado por governadores.
O professor de direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), Gladstone Leonel Júnior, vê com preocupação a movimentação do governo. Ele ressalta que as questões agrárias no Brasil são complexas e não podem ser resolvidas com ações ofensivas. Segundo ele, a tensão no campo já é grande no Brasil e tende a piorar com o tom bélico do presidente.
Gladstone lembra ainda que o direito à propriedade no campo precisa levar em consideração as funções sociais e não pode ser encarado de maneira absoluta, uma visão que, segundo ele, impede o desenvolvimento sustentável no campo e é inconstitucional.
“A partir do momento que o próprio presidente não observa a função social da propriedade e faz todo um discurso pautado na GLO e na defesa da propriedade de uma forma absoluta, algo que não existe mais há alguns séculos e a constituição não prevê, a gente vê essa quebra do estado democrático de direito de uma forma bem delicada e bem perigosa”, afirma o professor.
O representante da coordenação nacional do Movimento dos Sem Terra (MST), Alexandre Conceição, ressalta que as afirmações do presidente Bolsonaro não surpreendem.
Segundo ele, a utilização da GLO para reprimir movimentos sociais é uma atitude ditatorial e o MST vai denunciar em fóruns de debate no Brasil e no mundo que o governo brasileiro constrói um arcabouço jurídico de criminalização dos movimentos sociais. (pulsar/brasil de fato)