Na região de Cerrado denominada Matopiba – que reúne municípios do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, considerada uma “vitrine do agronegócio” –, apenas 0,4 por cento das fazendas produtoras concentram 60 por cento da renda, enquanto 80 por cento das propriedades ficam com cinco por cento das riquezas produzidas. Esse retrato que combina concentração de renda e devastação ambiental é o que mostra o relatório “Segure a Linha: A Expansão do Agronegócio e a Disputa pelo Cerrado”, publicado neste mês pelo Greenpeace.
Produzido pelo professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) Arilson Favareto, que é doutor em Ciência Ambiental, o estudo mostra que 58 por cento dos municípios do Matopiba continuam pobres, e são ainda mais desiguais do que a média de seus estados.
Entre 2013 e 2015, uma área equivalente a 24 cidades de São Paulo de vegetação nativa foi perdida na região, em função da expansão das culturas de exportação. O levantamento também constatou que os principais investimentos na região provêm do Estado, e não do setor privado, já que é o poder público que garante a infraestrutura para a exportação de produtos agrícolas, como a soja, por exemplo.
De acordo com a integrante da Rede Cerrado – entidade que luta pela preservação do bioma – Fátima Barros, é preciso combater a ideia de que desmatamento e progresso caminham juntos. “O agronegócio acumula capital para um grupo pequeno da população, enquanto o povo do Cerrado está cada vez mais empobrecido”, afirma. Fátima também denuncia que militantes que fazem a defesa do meio ambiente na região estão sendo ameaçados e mortos.
Outro prejuízo, resultado da concentração fundiária e do fortalecimento da especialização em produção de bens primários, tem sido a queda crescente da indústria de transformação nas exportações nacionais. Esse setor, que na década de 1980 respondia por cerca de 21,8 por cento dos produtos exportados, atualmente é responsável por apenas 11 por cento, mesmo percentual dos anos de 1950.
“Houve empreendedorismo, mas ele foi sobretudo do Estado, das instituições governamentais. Seria, portanto, injusto dizer que a força motriz que fez Matopiba ser essa força pujante da economia e da produção se deve ao heroísmo de produtores do sul que foram para a região”, diz Adriana Charoux, da campanha Amazônia do Greenpeace. (pulsar/rba)