A estiagem que reduziu de forma drástica o volume do Rio São Francisco e pela primeira vez na história secou sua principal nascente faz com que as atenções se voltem para as previsões da meteorologia. Sem garantias e nem previsão de que a situação se normalize, a Câmara Consultiva do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco se reúne nesta sexta-feira (26) em Belo Horizonte para discutir medidas emergenciais, entre elas a proposta de racionamento do uso da água.
Especialistas alertam que nem mesmo a temporada chuvosa e um bom volume pluviométrico serão suficientes para a recuperação total do rio, que depende do reabastecimento do lençol freático e de ações para a revitalização da bacia. Alguns acreditam que este processo pode levar anos.
O biólogo Humberto Mello, do Aquário do Rio São Francisco, localizado no Zoológico de Belo Horizonte, considera como um aviso o fato de a nascente do rio ter secado na Serra da Canastra. Para ele as ações preventivas não devem partir apenas dos governos, mas de toda a sociedade. Humberto destaca a urgência da recomposição da mata ciliar e a importância dos ribeirinhos na preservação.
O ambientalista Apolo Heringer Lisboa, coordenador do Projeto Manuelzão, ligado à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), lembra que percebeu a redução do volume do São Francisco desde julho do ano passado, quando percorreu toda a extensão da nascente até a foz, uma distância de dois mil e 700 quilômetros, em trabalho de pesquisa. Para ele, mesmo que o próximo período chuvoso seja intenso, o rio não deve recuperar o volume normal, já que o problema do secamento das nascentes está relacionado à redução do lençol freático. Segundo Apolo, grande parte da água que garante a recarga das nascentes do Velho Chico vem do Aquífero Urucuia, que abrange o estado de Goiás. O ambientalista afirma que a atividade intensa do agronegócio, que usa poços profundos, diminuiu a vazão da água, que era mantida há milhões de anos. (pulsar/combate racismo ambiental)