Anos depois de ser banida da agenda da indústria, a proposta de expandir o cultivo de cana-de-açúcar para a Amazônia voltou com força em Brasília. Um projeto de lei de 2011 que autoriza o plantio em áreas degradadas da Amazônia Legal está agora prestes a ser votado no Senado. A matéria entrou na pauta do plenário na última terça-feira (27), mas sua votação foi adiada. De acordo com o presidente do Senado, Eunício Oliveira, o adiamento se deu em razão do baixo quórum na sessão.
O retorno do tema à pauta do Congresso é criticado pelos próprios produtores de cana, considerando que, dois anos antes da elaboração do projeto, um decreto já havia excluído do mapa de expansão do setor biomas sensíveis, como Amazônia e Pantanal. As regras foram organizadas no Zoneamento Agroecológico, que determina as áreas onde a cana-de-açúcar pode ser cultivada.
De olho na produção de biocombustíveis e açúcar, a indústria não está disposta a manchar sua imagem fora do país e acredita que a proposta pode manchar essa reputação e colocar em risco os mercados já conquistados e o valor dos produtos brasileiros.
Para a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), o país tem mais a perder do que ganhar se a proposta for aprovada.
O autor do projeto, senador Flexa Ribeiro, foi eleito pelo Pará, estado com segunda maior área de Floresta Amazônica. Ribeiro defende o plantio de cana na Amazônia argumentando que o projeto “não derruba nenhuma árvore”, pois diz respeito a áreas “antropizadas”, ou seja, já alteradas pelo homem.
O Brasil é líder global quando o assunto é cana-de-açúcar: 20 por cento da produção mundial e 40 por cento das exportações do produto são de responsabilidade brasileira, segundo dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar). As plantações estão espalhadas por 10 milhões de hectares – área maior que o território de Portugal.
Os interesses que movem a aprovação do projeto também são um mistério para o Observatório do Clima, que reúne mais de 30 ONGs. No mercado internacional, a indústria brasileira tenta mostrar que o etanol nacional não causa destruição de florestas tropicais – um problema conhecido em países que plantam palma para produzir biocombustível. (pulsar/rba)