O dia 5 de novembro de 2015 vai ser lembrado para sempre como mais um dia que o lucro desmedido é colocado na frente da vida do povo. As barragens do Fundão e de Santarém, da mineradora Samarco, empresa ligada à Vale, se romperam despejando todo seu conteúdo no distrito de Bento Rodrigues, próximo ao centro da cidade de Mariana, em Minas Gerais. O distrito onde viviam 620 pessoas foi atingido pela torrente e teve 90 por cento de suas casas destruídas.
Os moradores, sem receber nenhum aviso da empresa, correram ao ouvir o som do rompimento da barragem. Fugiram às pressas para os morros e partes altas do distrito. Vários moradores relataram terem visto pessoas serem levadas pela enxurrada. Casas, escolas, rede elétrica, estradas, tudo foi destruído. Os moradores ficaram ilhados e começaram a ser resgatados de helicóptero por bombeiros.
A lama continuou descendo e atingiu mais vilarejos no caminho. O município de Barra Longa, distante aproximadamente 70 quilômetros do local da barragem, também foi atingido. A lama invadiu o centro da cidade, mais de 100 pessoas ficaram desabrigadas e muitos moradores ficaram ilhados na zona rural.
As estimativas das autoridades são de mais de dois mil atingidos. Nesse número não estão incluídos todos os municípios que terão abastecimento de água comprometido, rio contaminado e morte de peixes.
Quanto aos mortos e desaparecidos os números são controversos. Segundo os bombeiros mais de 500 pessoas foram resgatadas. As autoridades confirmaram a morte de três pessoas. A Samarco apontou 13 trabalhadores desaparecidos. A prefeitura divulgou a lista oficial de atingidos que constam 12 pessoas de Bento Rodrigues, totalizando portanto 25 desaparecidos. Militantes do MAB (Movimentos dos Atingidos por Barragens) conversaram com diversos atingidos que relataram ter parentes desaparecidos, outros presenciaram o momento que a lama arrastou moradores, portanto o número de vítimas provavelmente será maior do que os dados que estão sendo divulgados.
A lama alcançou o Rio Doce no dia 6 e comprometeu a captação de água de várias localidades. A lama da barragem era proveniente da mineração de ferro. Já se sabe que ao menos quatro cursos de água foram atingidos pelo rejeito: córrego Fundão, rio Gualaxo do Norte, rio Carmo e rio Doce. Segundo relato de trabalhadores do setor, o resíduo contém ferro e metais pesados como mercúrio e arsênio, que são elementos altamente tóxicos. Em entrevista coletiva, o presidente da Samarco afirmou que o resíduo é inerte e não prejudica os seres humanos.
Essa não é a opinião dos atingidos que tiveram contato com a lama, muitos relatam mal estar, tonturas, dor de cabeça, dor na garganta. O Ministério Público de Minas Gerais já designou cinco promotores para investigar as causas e responsabilidade do desastre.
No ano de 2013 o Ministério Público Estadual encomendou um estudo a especialistas que concluíram que fragilidades na barragem poderiam levar ao seu colapso. Por isso, o Ministério Público demandou da Samarco a construção de um plano de emergência e de alerta. Plano esse que nunca foi feito. Vários atingidos de Bento Rodrigues relataram que há anos a comunidade vinha fazendo denúncias sobre a insegurança das barragens. (pulsar/mab)