O município de Confresa, no Mato Grosso, lidera o ranking nacional de trabalho escravo: lá foram encontrados mil 348 trabalhadores em condições análogas à escravidão. Os dados são do Observatório Digital do Trabalho Escravo no Brasil, ferramenta online lançada no último dia 31 de maio pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) para apoiar ações e políticas públicas relacionadas ao tema.
A plataforma apresenta de forma dinâmica mapas dos estados e municípios com os números das operações e resgates, além dos fluxos migratórios dos trabalhadores aliciados entre os anos de 2003 e 2017. A ferramenta também permite analisar os fatos por recortes de raça, gênero e educação.
Segundo o Observatório, 91 por cento dos trabalhadores resgatados da escravidão nesse período nasceram em municípios que tinham, em 1991, Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) considerado “muito baixo” pelos padrões estabelecidos pelas Nações Unidas.
O Pará lidera como o estado com maior número de pessoas resgatadas e submetidas a condições de trabalho análogas à escravidão: de 2003 a 2017, foram resgatados nove mil 853 trabalhadores em 373 operações. O município de Ulianópolis é o que apresenta maior número no Estado, com mil 288 resgatados.
Sobre as causas desse cenário, Antônio Carlos de Melo, coordenador nacional do programa de combate ao trabalho forçado da OIT no Brasil, afirma que existe uma forte organização comercial da rota do tráfico de pessoas nessa região da Amazônia Legal.
Quase metade das vítimas resgatadas são homens jovens com idade média de até 30 anos. A nota técnica revela uma “invisibilidade do trabalho escravo feminino”, que se deve à falta de inspeções em ambientes ditos de “ocupações femininas”, a partir da divisão sexual do trabalho. O documento também admite que falta “um olhar específico sobre questões de gênero que perpassa toda a política de combate à escravidão contemporânea no Brasil”.
Mais da metade dos homens resgatados eram negros, um em cada três eram analfabetos e 70 por cento não haviam concluído o ensino fundamental. Foram encontrados ainda 873 menores de 18 anos em condições de trabalho escravo infantil. Dentre estes, 185 eram analfabetos. (pulsar/brasil de fato)