Foi instaurado, na última quinta-feira (1º), um inquérito no âmbito da Polícia Federal para apurar indícios relacionados a uma suposta organização criminosa que estaria atuando para impedir a elucidação do caso do assassinato da vereadora Marielle Franco (Psol-RJ) e de seu motorista, Anderson Gomes.
Os dois foram mortos em março deste ano, no Rio de Janeiro (RJ), em circunstâncias ainda não devidamente esclarecidas. Desde o início, a suspeita em torno dos assassinatos é de crime de execução, mas a investigação corre em sigilo.
O anúncio da instauração do inquérito foi feito pelo ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, na tarde de quinta, em Brasília. Segundo ele, a medida atende a um pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que enviou ofício solicitando a investigação federal.
A solicitação parte dos depoimentos de duas testemunhas que foram colhidos pelo Ministério Público Federal (MPF) e dão conta de uma articulação criminosa entre agentes públicos de diversos órgãos, milicianos e contraventores para obstruir as investigações do caso, impedindo que se chegue aos executores e mandantes do duplo homicídio.
Alguns agentes da Polícia Federal já atuavam no caso, mas apenas como auxiliares. O trabalho é conduzido por agentes da Polícia Civil e do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ).
Nos últimos meses, um atrito entre as diferentes instituições impediu uma maior articulação conjunta em torno do caso porque as autoridades fluminenses haviam recusado a ajuda da PF. A argumentação é de que seria uma intervenção indevida no trabalho local.
De acordo com Raul Jungmann, a partir de agora, com a instauração do inquérito na Polícia Federal, o caso passa a contar com duas vias oficiais e paralelas de investigação. Por conta disso, não se trata da federalização do caso, que tiraria de campo a atuação dos órgãos estaduais.
Ele informou que a investigação da PF se dará com base na Lei das Organizações Criminosas (nº 12.850/2013), que trata de crimes de repercussão interestadual e internacional, que exigem repressão uniforme. Já a investigação estadual é voltada ao esclarecimento das circunstâncias do crime.
Segundo Jungmann, os depoimentos feitos por procuradores da República que levaram ao pedido de Raquel Dodge foram colhidos dentro e fora do Rio de Janeiro. Ele não deu mais detalhes sobre os relatos e disse que a apuração ainda é embrionária.
O ministro informou que também foi solicitado ao diretor-geral da Polícia Federal, Rogério Galloro, que seja garantida a proteção das pessoas que prestaram depoimento.
O caso do duplo homicídio vem sendo acompanhado por diversas entidades nacionais e estrangeiras, entre elas a Anistia Internacional. Também é supervisionado por um grupo de parlamentares de uma comissão externa criada pela Câmara dos Deputados para monitorar as investigações no Rio de Janeiro. (pulsar/brasil de fato)