De acordo com auditoria do Ministério do Trabalho e Previdência Social realizada no último dia seis de maio, a Brooksfield Donna, marca feminina de luxo do grupo Via Veneto, produziu peças com mão de obra análoga à de escravo. A empresa nega ter qualquer responsabilidade sobre os trabalhadores encontrados na periferia de São Paulo. Cinco bolivianos trabalhavam ao menos 12 horas por dia, sete dias por semana, e moravam dentro do local de trabalho.
Na casa onde a oficina estava instalada, não havia extintores de incêndio, as instalações elétricas eram precárias e improvisadas, e o chão acumulava pilhas de tecidos, formando um cenário de fácil combustão onde a única porta de saída permanecia trancada.
Segundo os auditores fiscais, o forte odor também escancarava as condições precárias de higiene. A ausência de papel higiênico, colchões dentro da cozinha e a falta de limpeza do local também agravavam a insalubridade.
Um dos cinco trabalhadores era uma adolescente de 14 anos, filha do dono da oficina, Felix Gonzalo, que também foi encontrada na mesma situação. Segundo os auditores, a adolescente não poderia trabalhar porque a costura é uma das atividades econômicas onde é proibida a contratação de trabalhadores menores de 18 anos. O trabalho com instrumentos perfurantes, como a máquina de costura, está entre “as piores formas de trabalho infantil”, que o Brasil se comprometeu a eliminar até 2016.
Dentro da oficina, os fiscais encontraram outras duas crianças. Elas moravam com as mães, que passavam quase todo o tempo sobre as máquinas de costura. A demanda das crianças por cuidados agravavam os riscos de acidente em um trabalho que exige concentração e em um ambiente onde as máquinas não têm nenhum tipo de isolamento.
Embora todas as peças produzidas por essa oficina fossem para a marca Brooksfield Donna, o local era uma empresa subcontratada por outra companhia terceirizada pela marca. Esse tipo de prática é um elemento comum nas redes que exploram o trabalho escravo. Uma empresa intermediária, a MDS Confecções, recebia as encomendas e as repassava à confecção de Gonzalo, que costurava as peças exclusivamente para a Brooksfield Donna. Cada costureiro recebia, em média, seis reais por peça costurada. Roupas da mesma coleção feita na oficina chegavam a custar 690 reais em lojas. (pulsar/repórter brasil)