As justificativas do assassino Sidnei Ramis de Araújo, de 46 anos, autor da chacina ocorrida na festa de ano novo em Campinas, interior de São Paulo, matando a ex-mulher, o próprio filho e mais 10 pessoas, ganhou eco nas redes sociais e em sites de notícias. Em sua carta, divulgada na imprensa, o assassino esbravejou discurso de ódio contra as mulheres em geral e especificamente contra a ex, a quem culpava por ter perdido a guarda do filho.
A repercussão na internet brasileira não surpreendeu Juliana de Faria, fundadora da ONG Think Olga. Juliana pondera que a mulher sofre diariamente diversos tipos de violência, como a sexual e a doméstica e, apesar de não se assombrar com o discurso de ódio que circulou nas redes sociais, acredita que ao menos seja um avanço a palavra feminicídio passar a ser usada para definir crimes bárbaros como o ocorrido em Campinas.
Para a fundadora da Think Olga, a forma como a imprensa abordou o caso também foi problemática, principalmente pela divulgação da carta do assassino. Ela acredita que a carta tem um cunho de manifesto que instiga a culpabilização da vítima, permitindo essa violência como se estivesse exterminando um grupo que é entendido como culpado pelas coisas ruins da vida.
Juliana de Faria critica a ausência de contextualização e “do outro lado” em algumas reportagens que noticiaram o crime. Segundo Juliana, a falta de dados sobre feminicídio e violência doméstica nas reportagens também é um erro, que muitas vezes desumaniza e culpabiliza as vítimas.
Avpsicóloga Rachel Moreno, coordenadora do Observatório da Mulher, aponta a falta de legislação específica no Brasil para inibir o discurso de ódio na internet como um problema. Ela afirma que não se trata de controle da internet, mas quando há o estímulo ao ódio tem que haver punição e no Brasil não há.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupa o quinto lugar no mundo em feminicídio, com uma taxa de 4,8 crimes para cada 100 mil mulheres. Já o Mapa da Violência de 2015 revelou que do total de feminicídios registrados em 2013, 33,2 por cento dos homicidas eram parceiros ou ex-parceiros das vítimas. (pulsar/rba)