Com o resultado em primeiro turno que colocou, no último dia 7 de outubro, o candidato Jair Bolsonaro (PSL) como favorito neste pleito presidencial, as denúncias sobre o ódio e violência representados por seu discurso só aumentam. Já são dezenas de relatos de ameaças, agressões físicas e até mesmo assassinato de militantes ou minorias sociais que tomaram as redes e chegaram às ruas. Os criminosos, em sua grande maioria, são eleitores declarados de Bolsonaro.
Um mapeamento inédito realizado pela Agência Pública em parceria com a Open Knowledge Brasil, que está sendo organizado no site Vítimas da Intolerância, revelou que foram pelo menos 70 ataques com motivação política nos últimos 10 dias no país, no contexto do acirramento eleitoral. A grande maioria, 50 deles, foram cometidos por eleitores do Capitão reformado do Exército, e 33 deles ocorreram na região sudeste do país. Uma outra iniciativa, o Mapa da Violência da Extrema Direita no Brasil, também mapeou quase 50 ataques desde o último 1º de outubro.
Para a psicanalista Miriam Debieux, professora da Universidade de São Paulo e coordenadora da Rede Interamericana de Psicanálise e Política, o ódio faz parte constitutiva do ser humano, mas vem sendo manipulado como arma política. No dia 5 de outubro, um jogo online cujo objetivo é guiar o presidenciável do PSL em uma jornada de espancamento de negros, mulheres, pessoas LGBTI, militantes do movimento sem-terra e petistas, foi lançado na plataforma Steam.
Uma das primeiras, e mais graves notícias que sucederam a decisão do primeiro turno foi a do assassinato do mestre capoeirista Moa do Katendê, esfaqueado após defender seu voto no petista Fernando Haddad em Salvador, Bahia, logo após a apuração do primeiro turno. No dia seguinte do pleito, Anielli, irmã da vereadora Marielle Franco, assassinada em março deste ano, relatou que foi verbalmente agredida no Rio de Janeiro por um homem que gritou muito próximo ao rosto de sua bebê de dois anos, “esquerda de merda, sai daí feminista, piranha”.
Também no estado fluminense, em Nova Iguaçu, a mulher trans Julyanna Iguaçu, ex-vocalista do grupo Furacão 2000 foi golpeada na cabeça e no pescoço com uma barra de ferro, e recebeu chutes e socos pelo corpo. O ataque foi realizado por ambulantes que gritavam “Bolsonaro vai ganhar para acabar com os veados, essa gente lixo tem que morrer”.
Na noite da terça-feira (9), um estudante da Universidade Federal do Paraná (UFPR) teve sua cabeça cortada após ser atingido por uma garrafa jogada por integrantes de uma torcida organizada que gritava “Aqui é Bolsonaro”. Também no Paraná, o cineasta Guilherme Daldin foi atropelado na noite do domingo eleitoral, por estar vestindo uma camiseta vermelha com a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Questionado na última segunda-feira, o candidato Jair Bolsonaro afirmou lamentar os episódios, mas diz que não tem controle sobre a situação.
Para muitos, no entanto, o discurso do próprio candidato, que vai desde declarações machistas, racistas e homofóbicas, até a defesa da tortura na Ditadura Civil-Militar, e, mais recentemente, às falas em que diz que “vai metralhar a petralhada”, deveriam responsabilizar Bolsonaro pelos ataques. O Deputado Federal já foi denunciado pela Procuradoria Geral da República por crimes de racismo e manifestação discriminatória, devido a um discurso proferido em 2017 no Clube Hebraica, no Rio de Janeiro.
Em suas redes sociais, o candidato petista Fernando Haddad se pronunciou contrário a onda de violência. “Estamos conversando com todas as forças que queiram conter a barbárie que está escalada no país. Nós temos que botar um fim nessa violência. É demais o que está acontecendo. Violência não se responde com violência”, afirmou.