“Bati mesmo, mas foi revide”. “Olha o que ela me fez passar”. “Pode até ter acontecido um ato de violência, mas tinha um contexto para isso”. “Eu fui humilhado”. Esses são alguns dos sentimentos expressados por homens autuados pela Lei Maria da Penha em São Paulo. É assim que eles chegam, encaminhados pela Justiça, ao grupo reflexivo para homens, que funciona em parceria com a organização não governamental (ONG) Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde.
Espaços como este estão previstos na lei e diminuem de forma expressiva a reincidência, mas ainda dependem de ações voluntárias. “Eles chegam bem inconformados numa perspectiva de vitimização. Falam mal das mulheres, mal da lei, xingam. Falam muitos conteúdos machistas e violentos. Depois com o tempo vão percebendo: ‘Opa, não é só comigo que aconteceu isso. Com outros aqui do grupo também’”, afirma o psicólogo Tales Furtado Mistura, coordenador do grupo.
O psicólogo destaca que o trabalho se pauta pela identificação e por repensar a socialização masculina. “O principal é desconstruir alguns estereótipos de gênero e, principalmente, rever alternativas não violentas para os conflitos e ter outras referências de masculinidade”, explica.
Segundo Tales Mistura, um levantamento amostral da Vara Central de Violência Doméstica, na Barra Funda, revela que a taxa de reincidência caiu de 75 por cento para seis por cento entre os homens que passam pelo trabalho de reflexão. Ao todo, são 16 encontros de duas horas cada, com um máximo de 15 integrantes.
Neste grupo, a adesão é voluntária e a participação pode vir a ser um atenuante na pena, caso ele venha a ser condenado. O encaminhamento ocorre ainda na fase pré-processual. Em uma “mega-audiência”, a juíza apresenta a proposta e os homens aderem, ou não, ao grupo. A iniciativa completa dez anos e foi proposta ao Judiciário pelo coletivo feminista. (pulsar)
*Com informações da Agência Brasil