Após 28 dias de ocupação da sede da Superintendência de Assistência Social da Universidade de São Paulo (USP), um grupo que vive no Conjunto Residencial da USP (Crusp) teve sua principal pauta de reivindicação atendida: foi autorizada a criação de uma comissão autônoma, referendada pela instituição e formada só por mulheres, para apurar casos de violência contra a mulher dentro da moradia estudantil.
O Crusp tem pelo menos um agressor de mulheres em cada andar – ao todo são seis blocos, com oito andares cada um, de acordo com dados preliminares de um dossiê preparado pelas próprias estudantes. Os 42 agressores levantados até agora não representam, no entanto, a totalidade de casos: alguns chegam a ter cinco boletins de ocorrência registrados.
Já são pelo menos 50 ocorrências, desde 2013, levantadas a partir de boletins e relatos de vítimas, incluindo casos de violência sexual, física e psicológica. Entre as agressões levantadas estão exigência de relações sexuais como moeda de troca para ter acesso a uma vaga em um apartamento – que é prioritariamente direcionado para alunos e alunas de baixa renda que vêm de outras cidades – e perseguições até a porta de casa.
O último caso notificado ocorreu na madrugada de seis de abril, quando uma aluna foi espancada pelo namorado e por mais um homem na cozinha coletiva do bloco destinado aos alunos da pós-graduação. Como resposta, um grupo de alunas ocupou a sede da Superintendência de Assistência Social. E continuaram no prédio até dia 13, para estruturarem o regimento interno da comissão de investigação, o que ocorrerá em plenárias abertas.
As manifestantes se reuniram algumas vezes com o superintendente de Assistência Social, Waldyr Antônio Jorge, que a princípio havia convocado ele mesmo uma comissão, formada por um professor e três funcionários. Com a pressão das estudantes, ele voltou atrás e referendou a comissão autônoma formada por mulheres eleitas diretamente por estudantes.
Ao todo, 67 por cento das estudantes universitárias brasileiras já foram alvos de agressões por parte de colegas dentro dos campi em que estudam. O dado é da pesquisa Violência contra a Mulher no Ambiente Universitário, divulgada em fevereiro. (pulsar/rba)