A mudança climática já está afetando e afetará ainda mais nos próximos anos a prática de esportes no Brasil. Como ficou evidente ainda nos eventos-teste para a Olimpíada do Rio, o calor excessivo tende a prejudicar o desempenho dos atletas, impedindo a quebra de recordes. Em casos extremos, colocará suas vidas em risco.
Essa é a principal conclusão do relatório Mais Longe do Pódio – Como as Mudanças Climáticas Afetarão o Esporte no Brasil, lançado pelo Observatório do Clima, que coletou dados de pesquisas sobre o tema ao redor do mundo e ouviu médicos do esporte, preparadores físicos e atletas.
Além da maior atenção e tecnologia voltada à saúde e à adaptação térmica dos atletas antes, durante e depois das competições, as mudanças climáticas impõem alterações nos calendários e horários das provas. Nesta Olimpíada, por exemplo, os seis jogos de futebol da Arena da Amazônia, em Manaus, foram remanejados para seis horas da tarde devido ao forte calor de uma hora, horário previsto inicialmente.
No caso da Rio 2016, os eventos-teste já mostraram o impacto do aquecimento global. Em pleno inverno, triatletas da prova masculina largaram sob um calor de 35 graus Celsius e uma umidade relativa do ar de 70 por cento. Na prova de marcha atlética, realizada em um final de semana de fevereiro com 41 por cento de umidade do ar e temperatura de 38 graus, 11 dos 18 participantes sucumbiram. Em 2015, um jogo de futebol feminino no Piauí precisou ser interrompido depois que nove jogadoras passaram mal por excesso de calor.
No futuro, caso não se cumpram as metas do Acordo de Paris, essas cenas deverão se tornar mais comuns. O relatório usou dados de modelos globais de clima para montar um mapa do risco à prática esportiva nas capitais brasileiras no final do século. A conclusão é que, no pior cenário de emissões, 12 delas terão períodos do ano impróprios à prática de qualquer atividade física ao ar livre – em Manaus, caso extremo, a restrição ocorrerá no ano inteiro.
Associada à saúde, a prática de esportes pode se tornar exatamente o oposto por conta da poluição atmosférica, problema que tem a mesma origem do aquecimento global: a queima dos combustíveis fósseis. Como o volume respiratório aumenta durante os exercícios, o atleta – profissional ou amador – pode tragar mais dióxido de enxofre, partículas finas e outros compostos que provocam danos imediatos aos pulmões. Especializado em atividade física adaptada, Luzimar Teixeira, da Escola de Educação Física e Esporte da USP (Universidade de São Paulo), prevê uma geração relativamente jovem de ex-atletas com problemas respiratórios graves, como se fossem doenças laborais. (pulsar/envolverde)