Mais de dois anos após o rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana, Minas Gerais, quase 30 por cento dos atingidos sofrem com depressão. O percentual é cinco vezes superior ao constatado na população do país. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2015, 5,8 por cento dos brasileiros tinham depressão (11 milhões e 500 mil pessoas).
Os dados fazem parte do projeto Prismma, um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) sobre a saúde mental da população de Mariana atingida pelo rompimento da barragem, ocorrido em novembro de 2015.
O transtorno de ansiedade generalizada foi diagnosticado em 32 por cento dos entrevistados, apontando para uma prevalência três vezes maior que a existente na população brasileira.
O estudo foi conduzido em parceria com a Cáritas, entidade escolhida pelos atingidos que moram em Mariana para prestar assessoria técnica no processo de reparação. No total, 64 entrevistadores aplicaram um questionário à população impactada nos dias 15, 16 e 17 de novembro do ano passado. Dos 479 indivíduos abordados, 225 adultos e 46 crianças e adolescentes até 17 anos aceitaram participar da pesquisa. O restante se recusou, alegou medo de assinar documentos ou tinha outra justificativa para não responder às perguntas.
Além da depressão e do transtorno de ansiedade generalizada, foram avaliados também o transtorno de estresse pós-traumático, o risco de suicídio e os transtornos relacionados ao uso de substâncias psicotrópicas, como álcool, tabaco, maconha, crack, cocaína.
A dependência de álcool foi diagnosticada em 5,8 por cento da população e a de tabaco em 20 por cento, enquanto 0,9 por cento foi considerado dependente de maconha e 0,4 por cento dependente de cocaína ou crack. Já o risco de suicídio foi identificado em 16,4 por cento dos entrevistados.
Entre as crianças, o principal achado da pesquisa da UFMG foi a alta frequência de entrevistados que preencheram critérios para transtorno de estresse pós-traumático, superior a 82 por cento. Nos adultos, este diagnóstico envolveu 12 por cento dos atingidos. No recorte por sexo, notou-se que a prevalência nas mulheres, de 13,9 por cento, foi superior em comparação com os homens, que ficou em 8,6 por cento. (pulsar/rba)