Psicologia Transpessoal: noções gerais
A sabedoria nasce menos da inteligência e mais do coração.
Peter Rosegger
A Psicologia Transpessoal é uma abordagem da Psicologia considerada por Abraham Maslow (1908-1970) como a quarta força, sendo a primeira força a Psicanálise, seguida do comportamentalismo, e do Humanismo. É uma síntese dos conteúdos de várias escolas psicológicas, como as teorias de Carl G. Jung, Maslow, Fritjof Capra e Ken Wilber, entre outros estudiosos. Surgiu no final da década de 60 do século passado (1967) junto aos movimentos New Age nos EUA, pelo pensamento de Maslow: o ser humano necessita transcender sua Psique, conectando-se a outras realidades, procurando sempre pela Verdade, de forma a entender sua existência e ajudar a si próprio e aos outros.
A psicologia transpessoal tem entre seus objetos de trabalho e pesquisa os estados não ordinários de consciência que abrangem vários técnicas como a hipnose, a meditação, o relaxamento, e experiência com alucinógenos - no campo da pesquisa. Ken Wilber, um dos seus principais teóricos, em O Espectro da Consciência propõe uma cartografia do ser que abrange do físico ao psíquico e deste ao espírito. Por isso a Transpessoal tem atraído cientistas, especialmente da física que fazem a conexão entre o conhecimento científico padrão e as observações e proposições transpessoais. Assim, a Psicologia Transpessoal abrange o ego, como as demais escolas de psicologia, e os estados além do ego (transpessoal), inclusive nas suas manifestações aparentemente materiais. No Brasil essa corrente psicológica encontrou ressonância com a tradição espírita e os fenômenos mediúnicos passaram a ser estudados no contexto dos estados alterados de consciência.
Considerando que alguns dos teóricos desta abordagem não provêm da medicina ou da Psicologia, mas sim das ciências exatas ou naturais, que alguns fenômenos estudados por esta abordagem tem excedido os limites da psicologia acadêmica oficial, pesquisadores e terapeutas contemporâneos vêm denominando-a simplesmente de Transpessoal. Essa alteração de nomenclatura representa uma ruptura da ligação exclusiva com a Psicologia, permitindo que estudiosos de outras áreas do conhecimento, interessados nos estudos transpessoais, possam participar de estudos e pesquisas em situação de igualdade com os médicos e psicólogos.
Alguns conceitos práticos
O que há de mais valioso neste curso de Psicologia é a energia do Amor, não apenas o amor romântico ou o amor pelas coisas materiais, mas o Amor fraterno, universal. Quando as pessoas vivem intensas experiências espirituais, a energia do Amor está sempre presente. É um Amor incondicional, absoluto e transcendente. É uma energia cósmica, carregada de sabedoria e compaixão. O Amor é uma energia fundamental, é a essência de nosso Ser e do universo. É o Amor que une e conecta todas as coisas e pessoas.
Precisamos do Amor para navegar em harmonia, rejeitar o medo, o orgulho, a raiva e o ódio. Estamos vivendo um tempo de tempestades assustadoras, a violência e a falta de visão parecem dominar o mundo. Precisamos ter a coragem necessária para lidar com esse tempo adverso. Devemos amar e respeitar o próximo, para enxergar e apreciar a verdadeira essência dos seres humanos, porque todos somos energias oriundas da mesma fonte, todos são feitos das mesmas substâncias cósmicas.
Trabalhando os relacionamentos com Amor
Depois do nosso nascimento no estado físico, a fonte principal de aprendizagem são os relacionamentos. Através da alegria, da dor e da emoção dos relacionamentos, avançamos em nosso caminho espiritual, de maneira a aprendermos a respeito do Amor sob todas as formas. Relacionamentos são laboratórios vivos, um verdadeiro campo de testes para determinar como estamos nos saindo se aprendeu profundamente nossas lições, aproximando-nos do plano que predeterminamos para a nossa vida.
Nos relacionamentos aprendemos a negociar, dialogar e perdoar ou usamos de violência, autoritarismo, vingança... Somos capazes de nos aproximar dos outros com compreensão, amor e compaixão, ou reagimos com medo, egoísmo e rejeição. Sem relacionamentos, nunca poderíamos saber essas coisas, nem testar nosso progresso.
O Amor não é um processo intelectual, mas uma energia dinâmica que flui do cosmo para nós e vice-versa, permanentemente, quer estejamos ou não consciente disso. Devemos aprender tanto a dar Amor quanto a recebê-lo. Só em comunidade, envolvidos em relacionamentos e servindo ao próximo, é que seremos capazes de verdadeiramente compreender toda a amplitude da energia do Amor. Nossos corações e nossas almas têm mais necessidade e respondem melhor à psicoterapia espiritual do que a abordagens meramente intelectuais e mecânicas.
É importante compreender a natureza do Eu que é imortal. Essa compreensão irá ajudar a olhar as coisas através de uma perspectiva cósmica, proporcionando o desenvolvimento do autoconhecimento para ver com clareza, sem as distorções da mente consciente ou subconsciente. Pratique a meditação e a visualização, a observação desprendida, a percepção pacífica, experimentando uma sensação de generosidade amorosa. Cultive esse estado.
Conheça os seus pensamentos, as suas fantasias e perceba que você pode ter misturado tudo. As generalizações nos impedem de enxergar o que é único e individual. Preconceitos e estereótipos, tais como: os homens são brutos e insensíveis, as mulheres são por demais emotivas e sensíveis, quase sempre levam a uma distorção da realidade. A experiência é mais forte do que a crença. Aprenda com suas experiências. O que ajuda sem prejudicar é muito valioso. Descarte suas crenças e pensamentos ultrapassados.
A felicidade vem do íntimo. Não depende de fatores externos ou de outras pessoas. Nós nos tornamos vulneráveis e podemos ser facilmente feridos quando nossos sentimentos de segurança e felicidade dependem do comportamento e das ações de outras pessoas. Nunca transfira o seu poder para outra pessoa.
Ame, inclusive a si. Não se preocupe com a opinião alheia. Se você realmente precisa e quer dizer NÃO, para recusar alguma oferta ou obrigação, faça isso. Se você não o fizer, abrirá um caminho para a raiva entrar. Você vai sentir raiva do compromisso e da pessoa que o impôs. É melhor dizer NÃO quando você precisa e dizer SIM quando você quer.
Projeção é a ação psicológica de negar o seu medo e suas motivações inconscientes, colocando esses medos e motivações nos outros. Tenha cuidado para não projetar seus sentimentos ocultos nos outros ou para não lhes atribuir motivações e intenções inexistentes. Essa distorção da realidade fere tanto a você quanto ao outro. Por exemplo: se você tem baixa/estima e medo de ser abandonado e seu amigo não comparece a um encontro, você pode pensar que ele não está nem aí para você ou que foi se encontrar com alguém mais interessante. Na verdade o que aconteceu foi que seu amigo ficou preso no trânsito.
Amor não tem nada a ver com dependência. Por respeito a nós mesmos, é fundamental não permanecer numa relação destrutiva, mesmo que você ache que ama a outra pessoa. Pode ser que a ligação com essa pessoa não funcione por causa dos problemas dela, mas é importante lembrar que o Amor nunca acaba e que você terá muitas outras oportunidades de encontrar a pessoa certa.
Enxergue a outra pessoa com clareza e nunca a ponha sobre um pedestal. Seus pais, professores, as pessoas que representam a autoridade são exatamente iguais a você. Elas têm seus próprios medos, dúvidas, ansiedades e imperfeições. Não se deixe manipular. As veja como iguais, como seus amigos. O julgamento que emitem não tem nenhum valor especial. Ouça e reflita sobre a opinião delas. Podem até serem sábias, corretas, mas também podem estar erradas. Ouça a sua voz interior, essa sim é importante.
Quase sempre tomamos de maneira pessoal as agressões e golpes dados por aqueles que nos atacam. E ainda com maior freqüência nos deixamos manipular em seus jogos neuróticos. Mas não é um ataque dirigido especialmente a você: qualquer pessoa na sua posição receberia o mesmo tratamento. Não há nada especialmente nocivo ou fora do comum em você.
Fique prevenido contra as embalagens que disfarçam certas pessoas. As mais perigosas quase sempre usam os disfarces mais sedutores: são excitantes, engraçadas, impulsivas, vivem sempre no limite. Freqüentemente, a aparência externa cega o nosso coração, sendo assim, nos impedem de enxergar o perigo. Aprenda a ver com o seu coração e não apenas com os olhos. Trabalhe a intuição.
Promovendo a compreensão nos relacionamentos
Relacionamentos precisam de cuidados e atenção. Reavalie as suas prioridades atuais. Dedique tempo e energia para o bem da outra pessoa. Concentre nela a sua atenção, pois os relacionamentos são mais importantes do que a televisão, o computador, a revista, o celular. Afaste as distrações, desligue o rádio, deixe de lado o jornal. Respeite a outra pessoa.
É sempre seguro amar por completo, sem reservas. Nunca seremos verdadeiramente rejeitados. Só quando nos deixamos envolver pelo Ego que nos tornamos vulneráveis e nos machucamos. O amor em si é absoluto e abrangente.
Tratem os outros com Amor e compaixão (com paixão), sem se preocupar em receber nada de volta. O que importa não é o número de pessoas que você alcança como o seu Amor, mas sim o ato de se entregar carinhosamente. Às vezes, quando um médico trata seu paciente com compaixão e vontade de curar, ele é mais beneficiado do que o paciente. Reflita: todos nós somos médicos da alma.
Use o seu coração nos relacionamentos, ou seja, não use apenas a cabeça. Se tiver dúvida, escolha o coração. Isto não significa que deva negar o que aprendeu com a experiência. Confie, porém, na sua sabedoria intuitiva, para integrar experiência e intuição. Não confundir intuição com desejo. O importante é conseguir um equilíbrio entre a cabeça e o coração. Quando a intuição se manifesta com clareza e verdade, os impulsos amorosos são favorecidos. Quanto mais você se dedicar a ouvir essa serena voz interior, mais nítida e precisa ela se tornará.
Ajudem os outros a pensar e realizar seus planos de vida e seus objetivos. A segurança no relacionamento começa nas atitudes amorosas do dia a dia. Acabe com a dependência. Não faça com que a auto/estima, o dinheiro ou a confiança de alguém dependam de você. Não humilhe nem desvalorize ninguém. Promova o Amor e a auto/estima. As pessoas não abandonam relacionamentos repletos de Amor, a não ser que não saibam o que estão fazendo ou que estejam iludidas.
Se coloque no lugar do outro. Tente entender suas razões, motivações, circunstâncias. Sempre que sentir um impulso positivo, diga coisas agradáveis, desde que sejam verdadeiras e venham do fundo do coração. Desenvolva gestos carinhosos.
Ponha de lado o Ego e o orgulho, que só atrapalham. Ouça com atenção, com desprendimento e flexibilidade. Faça com que o outro se sinta livre para dizer o que quer.
Só fale quando tiver alguma coisa positiva para dizer. Não fale sem antes refletir. Existe um provérbio chinês muito sábio: quem muito fala, muito erra. É sempre mais seguro ficar em silêncio, ouvindo e tentando compreender. Saiba captar os medos implícitos por trás dos pensamentos e das ações. Esteja aberto para enxergar o contexto mais amplo, procurando não se deixar distrair pela raiva ou por outra emoção.
Nunca fale ou aja quando estiver com raiva. As palavras têm muito poder e um efeito duradouro, não é fácil esquecê-las. Nunca fale sob o efeito do álcool ou das drogas. É muito difícil curar completamente as feridas causadas pelas palavras de raiva e de ódio.
Vencer uma discussão pode significar uma derrota, se servir apenas para satisfazer o Ego. Fazer aquilo que promove o Amor, a compreensão e a cooperação é a verdadeira vitória. A derrota será aquilo que promove pensamentos e emoções negativas: sentimento de culpa, raiva, vergonha, tristeza, ansiedade, preocupação, ódio ou medo.
É difícil se livrar da raiva. Nós nos sentimos sempre com razão, sempre certos, como se nossa integridade e honras estivessem em jogo, sendo testadas. O único teste, nesta grande escola que chamamos de humanidade, é saber se estamos conseguindo afastar a raiva e abraçar o Amor. Ficar apegado a raiva envenena o relacionamento. Continue a amar, mesmo que o outro esteja zangado, magoado ou amedrontado. O Amor é permanente, a raiva é transitória. Nunca empregue a violência.
Descubra as causas da raiva, pense a respeito, respire fundo várias vezes; deixe a raiva passar. Quanto tempo isso demora? Cinco dias, três, um dia, uma hora? Por que não encurtar o tempo?
Removendo obstáculos
Traumas na infância, produzidos pelas expectativas irracionais dos pais, são curados com dificuldade. É preciso compreender que o pai (ou a mãe) estava errado ou obcecado por uma ilusão, e essa tomada de consciência não pode ser meramente racional. O coração e as entranhas devem absorvê-la também.
Com tranqüilidade e delicadeza, faça essas perguntas e, sem julgar nem criticar, observe os pensamentos, sentimentos e imagens que vêm à sua consciência: Quais eram as exigências e expectativas irracionais de seus pais em relação a você? Será que eles queriam descobrir quem você era, ou só sabiam o que queriam que você fosse? Será que eles tentavam viver e realizar seus desejos através de você? Usavam você para impressionar os outros?
Se você sente muita preocupação com as opiniões alheias é sinal de que usaram você dessa maneira. Procure não se importar com o que os outros pensam a seu respeito, se estiver fazendo o que lhe parece certo ou estiver exercendo sua vontade sem prejudicar ninguém. Livre-se dessa dependência.
A culpa é uma maneira de ter raiva de si, uma forma de voltar à raiva para dentro. De alguma maneira você não correspondeu às expectativas que idealizou a respeito de si e desapontou-se com isso. A raiva é uma defesa do Ego, uma defesa contra o medo. Medo de sofrer humilhação, constrangimento, desvalorização, zombaria, medo de perder prestígio, medo de derrota. Medo de não conquistar o seu próprio espaço.
Pensamos às vezes que a raiva nos protege contra os outros, contra aqueles que nos fariam mal, contra os que também sentem raiva de nós. Mas a raiva é uma emoção perniciosa e inútil. É sempre dissolvida pela compreensão e pelo Amor.
Quando uma emoção negativa é compreendida e descobrimos suas causas, a energia que está atrás da emoção diminui e até desaparece. Quando sentir raiva, a medida mais saudável é parar, respirar fundo algumas vezes, tentar descobrir o motivo da raiva, procurar resolver a situação e desapegar-se da raiva. Ao darmos espaço para a raiva, provocamos danos químicos em nosso corpo, que afetam a parede de nosso estômago, nossa pressão sangüínea, os vasos sangüíneos do coração e da cabeça, nossas glândulas, nosso sistema imunológico e assim por diante. Mesmo assim, a despeito dessas conseqüências de ordem física e emocional, nos deixamos tomar pela raiva com muita freqüência sem buscar dissolvê-la.
Além disso, a raiva não é um instrumento eficaz para resolver qualquer questão. Ela perturba a clareza do raciocínio, afeta a tomada de decisão, inviabiliza nossa argumentação e cria uma predisposição negativa no interlocutor.
É verdade que a mídia projeta para nós modelos de pessoas raivosas. Rambo está permanentemente com raiva. O Exterminador do Futuro tinha que estar com raiva o tempo todo, para justificar o que fazia. A grande maioria dos personagens dos filmes de ação (policiais, soldados e outros heróis) é forjada no ódio.
Normalmente, o ódio deles é retratado como uma ira justa. Algum tipo de injustiça foi cometido contra eles, e isso torna aceitável odiarem e até mesmo matarem. Essas imagens são um enorme desserviço para todos nós. A raiva deveria ser evitada e não encorajada, pois ela provoca guerras e sofrimento. A raiva nos destrói, seja por meio de nossa química interna, seja por balas disparadas pelo inimigo. A compreensão e o Amor dissolvem a raiva.
Deixando o medo de lado
As paredes que erguemos à nossa volta, quando nos sentimos emocionalmente ameaçados, são feitas de medo. Tememos ser feridos, rejeitados, abandonados. Somos ameaçados por nossa vulnerabilidade e nos proteger de nossos próprios sentimentos. Suprimimos, assim, nossas emoções.
Ao bloquearmos nossas emoções e sentimentos, nos tornamos incapazes de entender a fonte de nosso sofrimento, as vulnerabilidades e os medos subliminares. Não conseguimos nos curar, deixamos de ser uma pessoa inteira.
Quando tiver tomado consciência do seu medo, e compreendido suas origens, ele se dissolverá. E seu coração estará aberto outra vez. Resultado: uma grande alegria tomará conta de você.
Se a sua mente está fechada, você não pode aprender nada novo. Mentes fechadas rejeitam tudo o que é diferente, tudo o que entra em conflito com suas antigas crenças, mesmo que essas possam estar equivocadas. Pessoas com mente fechada esquecem que a experiência é mais importante do que a crença. E o medo é a força que mantém a mente fechada. Só uma mente aberta pode receber e processar um novo conhecimento.
Um de nossos maiores problemas é estarmos sempre preocupados com resultados. Essa preocupação cria uma ansiedade desnecessária, medo e infelicidade. A ansiedade tem a ver com o nosso desempenho. E se o nosso desempenho não for satisfatório? E se fracassarmos? O que os outros vão dizer? Vão nos julgar severamente e nos punir? O medo aqui está relacionado com deixar de realizar a meta ou o objetivo desejado. Se falharmos, não vamos conseguir o que queremos. Vamos nos tornar uns fracassados, uns perdedores. Seremos rejeitados. Odiaremos a nós mesmos. Ódio e medo são o oposto do Amor.
Em vez de se preocupar com resultados específicos, procure agir corretamente. Aja de maneira desprendida! Espere o melhor. A esperança é uma coisa boa. A insegurança não, porque quando ela se apresenta, o desapontamento está próximo.
O dinheiro é uma coisa neutra. Nem bom, nem mau. O que importa é o que fazemos com ele. Podemos usar o dinheiro para ajudar quem necessita ou podemos escolher o emprego egoísta, desperdiçando a oportunidade de sermos generosos. A escolha é nossa. Todas as lições, cedo ou tarde, serão aprendidas.
Dinheiro e segurança são coisas diferentes. Segurança só pode vir de nosso interior. É uma coisa espiritual. Dinheiro é terreno, não se pode levar quando partimos para outro plano. Podemos perder tudo da noite para o dia. A segurança vem de uma paz íntima e do conhecimento da nossa essência cósmica, que é espiritual.
O entendimento pode curar
As regiões mais profundas de nossas mentes não estão sujeitas às leis normais do tempo. Eventos ocorridos muito tempo atrás podem nos afetar como se estivessem especialmente próximos. Velhas mágoas influenciam nosso estado de espírito, como se tivessem sido infligidas ontem mesmo, e, às vezes, o seu poder cresce com o passar dos anos.
O entendimento pode ajudar a curar esses traumas antigos. Já que a região mais profunda da mente não está sujeita às limitações usuais de tempo e de espaço, acontecimentos do passado podem ser reformulados. Causa e efeitos não estão necessariamente interligados. Traumas podem ser desfeitos e os efeitos nocivos revertidos. Uma cura profunda para os nossos relacionamentos, o entendimento traz uma diminuição do medo. O entendimento abre uma janela através da qual o Amor, como uma brisa suave, sopra para longe nossas dúvidas e ansiedades, refrescando nossas almas e alimentando nossos relacionamentos.
Freqüentemente, nossos medos se ligam a eventos ocorridos no passado. Porém, como mergulhamos no esquecimento, projetamos esses medos para o futuro.
Amar não é um altruísmo, mas a mais plena forma de bem-estar. Quem ama não é um beato ou um piedoso, como propagaram as religiões. Amar é a medida de equilíbrio entre o desinteresse e o egoísmo. É a forma pela qual nos manifestamos inteiros e íntegros.
Uma das evidências mais significativas de inteligência espiritual está na ênfase dada ao poder de Amar, conseguindo fazer decrescer a importância de ser amado. Quanto mais se serve, em vez de ser servida, maior a inteligência envolvida.
Sabemos que a felicidade vem do íntimo. Felicidade é um estado interior. Você não se tornará feliz miraculosamente, por conta de mudanças externas, mas apenas se você mudar. Você precisa enxergar as coisas de um ponto de vista mais amplo. Alguém pode até lhe apontar o caminho, ensinar técnicas, mas é tudo o que pode fazer. O resto é por sua conta. Buscar a felicidade e a alegria não é de forma alguma errado, pecaminoso ou prejudicial ao espírito. Você não pode se formar na escola da vida sem aprender o que é alegria.
Amor e compaixão
Compaixão, cooperação, carinho pelos vizinhos e responsabilidade comunitária não são matérias de economia. São atitudes do coração e não podem ser reguladas por leis ou impostas de fora para dentro. Elas precisam ser aprendidas em nosso íntimo.
Não importa se o nosso país ou comunidade pratica um determinado sistema econômico ou político. Os frutos de nosso talento e esforços deveriam ser compartilhados por toda a nossa comunidade, distribuídos (depois de reservarmos aquilo de que precisamos para nossas famílias) com compaixão e Amor entre as pessoas. É o coração generoso de cada um que pode promover uma distribuição da riqueza proveniente do trabalho daquela pessoa.
Recebemos e damos. Em troca, recebemos de outros. A alegria está no equilíbrio entre dar e receber. Quando nossas comunidades forem generosas e cooperativas, responsáveis e afáveis, estaremos recriando um pequeno pedaço do paraíso sobre a Terra.
Violência é muito mais do que infligir danos físicos a outras pessoas. Algumas formas de violência podem ser mais devastadoras do que as de tipo físico.
A violência pode ser muito sutil. Discriminar as pessoas, estabelecendo uma separação entre nós e eles são um ato de violência. Dar prioridade as diferenças entre os seres humanos, em vez de valorizar o que eles têm em comum, inevitavelmente, cedo ou tarde, leva à violência.
Tememos o outro. Projetamos nele aquilo que odiamos em nós mesmos, nossas falhas e fracassos. Nós o culpamos pelos nossos problemas, em vez de olhar para nós mesmos. Tentamos resolver nossos problemas dando um jeito neles e, quase sempre, com o emprego da violência.
Quando você distribui seu carinho e generosidade para aqueles que parecem diferentes, você domina o medo e o substitui pelo Amor. Dessa forma podemos vencer a violência.
Estamos nadando contra a corrente do Amor quando discriminamos os outros por serem diferentes. Porque o Amor nos diz que estamos ligados, que somos toda a mesma coisa, energia do mesmo universo.
Mudando suas ações
Todos nós sonhamos com uma vida melhor em uma sociedade melhor. Entretanto, é quase impossível passar um dia inteiro sem sofrer desilusão, agressão e esgotamento causados pelo egoísmo e maldade que nos cercam. Existem tantas pessoas que parecem interessadas apenas em seus ganhos pessoais. Geralmente são rudes e arrogantes, fechadas e insensíveis. Não apenas seus atos nos deprimem e agravam a situação geral, como a maioria de nós sente que não há nada que possamos fazer para mudar isso, que apenas aqueles que estão no comando teriam a capacidade para executar tais ações. Como uma praga, essas atitudes e valores puramente materialistas se alastram pelo mundo.
Se aceitarmos nossa tarefa de sermos os seres iluminados de nosso planeta, poderemos começar a mudar o mundo. As mudanças irão ocorrer lentamente, à medida que começarmos a praticar atos de bondade todos os dias, a fazer pequenas coisas capazes de ajudar as outras pessoas a serem mais felizes. Talvez a resposta esteja num trabalho voluntário para ajudar os mais necessitados. Talvez seja alguma coisa muito simples, como ter um gesto afetuoso com alguém, fazer uma gentileza, sem pedir ou esperar nada em troca.
Esses atos não têm que ser caros ou complicados. Podem não passar de um sorriso carinhoso, um elogio espontâneo, uma ajuda a alguém que esteja precisando. Podem ser uma palavra gentil, um gesto atencioso, um ato generoso, uma atitude solidária, uma alegria partilhada, uma mão estendida. Uma grande transformação em nossa sociedade poderia começar daí e pouco a pouco, com um passo de cada vez, as pessoas se sentiriam reconfortadas pela bondade dos gestos dos outros e passariam a reproduzir as mesmas ações.
Gentileza e carinho não podem ser reservados apenas aos nossos amigos e parentes. Assim, a sociedade não mudaráem nada. Precisamosnos aproximar das pessoas estranhas, não apenas daqueles que se parecem conosco.
Não existe um cronograma para mudar as suas ações. A única coisa importante é começar já. Se for verdade que uma jornada de dois mil quilômetros se inicia com um passo, então o primeiro passo é deixar o isolamento e o medo de lado, começar a praticar atos de bondade e gentileza, espontâneos ou planejados, grandes ou pequenos.
O mundo não deixará de ser violento e competitivo, mesmo com os esforços de alguns iluminados ou poderosos líderes. Em vez disso, os atos de bondade e compaixão cotidianos, partilhados entre as pessoas e dentro de pequenos grupos, podem transformar nosso planeta em um lugar mais amoroso e solidário. Estamos quase todos lutando por um pouco de paz, felicidade e segurança em nossas vidas. Não podemos continuar competindo desenfreadamente, brigando, agredindo, explorando e matando uns aos outros.
Reflita: se você não tem oportunidade de fazer grandes coisas, que tal fazer pequenas coisas de uma forma grandiosa?!?
O texto Psicologia transpessoal: noções gerais foi baseado na obra A divina sabedoria dos mestres, de Brian Weiss.
Referências
(1) LANE, Silvia. O que é psicologia social, São Paulo; Brasiliense, 1984, p. 76.
(2) BOCK, Ana M. Bahia et alii. Psicologias. 8a ed. São Paulo; Saraiva, 1995, p. 94.
Bibliografia
BOCK, Ana M. Bahia et alii. Psicologias. 8a ed. São Paulo, Saraiva, 1995.
DAVIDOFF, Linda L. Introdução à psicologia. São Paulo, McGraw-Hill do Brasil, 1983.
GUARESCHI, Pedrinho A. Comunicação e poder. 11a ed. Petrópolis, Vozes, 1998.
LANE, Silvia. O que é psicologia social, São Paulo, Brasiliense, 1984.
WEISS, Brian. A divina sabedoria dos mestres. 2 ed. Rio de Janeiro: Sextante, 1999.
Segunda parte
Breve descrição sobre processos grupais
Você só pode melhorar os outros se melhorar a si próprio.
Hugh R Hanels
O ser humano é simultaneamente um ser sociável e um ser socializado, sendo assim, entendemos com isso que ele é, ao mesmo tempo, um sujeito que aspira se comunicar com os seus pares e, também, membro de uma sociedade que o forma e o controla, quer queira ou não. Esse artigo descreve os processos grupais, conceito da psicologia social que procura estudar a interação social, manifestações do comportamento de uma pessoa com outras, ou pela simples expectativa da tal interação.
A história de vida do indivíduo é a história de pertencer a inúmeros grupos sociais. É através dos grupos que as características sociais mais amplas agem sobre o ser humano. É no grupo familiar que ele aprenderá a língua de sua nação. A partir daí, este aprendizado possibilitará seu ingresso em outros grupos sociais e sua participação nas determinações que agem sobre ele.
Essas relações sociais ocorrem, inicialmente, no grupo familiar, um estágio de preparação para participar, mais adiante, das relações sociais mais amplas. A preparação do indivíduo significa, ao longo de sua existência, “que ele irá internalizar, apropriar-se da realidade objetiva”1, e esta será fundamental na sua formação psíquica, um processo em permanente construção. Ao nascer, o homem entra num cenário construído sem a sua participação. É o mundo social, a realidade objetiva, formada por um modo de organização política, econômica e jurídica da sociedade, de uma cultura produto da construção humana.
O estudo dos processos grupais (dinâmica psicossocial) atingiu um estado de desenvolvimento que atualmente já é considerado, por alguns estudiosos, como uma área autônoma da psicologia social2. No presente trabalho veremos alguns aspectos desses processos, tais como: coesão, liderança, status, formação de normas e papel social.
Organizações e instituições
Instituição é o conjunto de normas que regem a padronização de um determinado hábito na sociedade e que garantem a sua reprodução. Falando sobre a origem das instituições, Berger e Luckmann3 dizem que o hábito fornece a direção e a especialização da atividade que faltam no sistema biológico do indivíduo, oferecendo um fundamento estável, no qual a atividade humana pode avançar com o mínimo de tomada de decisões durante a maior parte do tempo. Para estes autores, a institucionalização ocorre sempre que há uma tipificação de ações habituais (padronização) aceitas por determinado grupo. Qualquer destas tipificações é uma instituição. O Casamento, a família, a equipe de trabalho, a faculdade, a religião, o clube esportivo... Todos têm seus padrões e, portanto estão institucionalizados.
O grupo familiar compõe o alicerce da ordem social estabelecida, o lugar onde acontece o princípio da socialização, quando surge a primeira forma de hierarquia social, a primeira divisão de trabalho. O sistema institucional está presente na disposição material dos lugares e dos instrumentos de trabalho, nos horários, nos conjuntos de autoridades4. O processo de institucionalização da sociedade é uma forma de garantir sua reprodução, através da realidade objetiva de suas instituições, que são dinâmicas, pois dependem da forma como o processo histórico se constitui, onde um elemento interfere no outro. Isto ocorre porque temos diversos níveis de realidade social. O primeiro deles é o da instituição, o segundo o das organizações e o terceiro dos grupos. A forma como eles interagem e se determinam define a dinâmica entre eles e compõe a realidade social.
O nível institucional é o da norma, das regras estabelecidas. É o que está mais presente em nossas vidas e o que menos se vê. Por exemplo, as normas de comportamento estão institucionalizadas: sabemos que tipos de roupa deveram vestir para cada ocasião, e isso não requer análise ou reflexão. Somente quando a situação é completamente nova precisamos consultar alguém que tenha vivenciado experiência semelhante. Casos contrários poderão passar por uma situação desconfortável, isto é, estarmos com um traje inadequado num lugar cerimonioso ou nos sentirmos deslocados numa situação inversa. Esta sensação denuncia a presença de uma norma que está institucionalizada. Podemos dizer que a institucionalização é a presença invisível da sociedade no dia a dia dos indivíduos.
Essa forma invisível com que as instituições se nos apresentam outros níveis da realidade social acaba por gerar situações de choque e crise nos grupos, por representar uma forma definida de dominação que ocorre na sociedade, mas não se coloca de forma explícita para os grupos que sofrem essa dominação.
O nível organizacional é o responsável pela reprodução do nível institucional e é aquele onde o controle se apresenta de forma mais clara, como no caso do horário de entrada e saída do trabalho nas fábricas.
O grupo social
Supõe um conjunto de pessoas num processo de relação mútua e organizado com o propósito de atingir um objetivo imediato ou mais em longo prazo. O imediato pode ser, por exemplo, fazer um trabalho escolar e, mais em longo prazo, editar um jornal impresso para a turma.
A realização do objetivo impõe tarefas, regras que regulem as relações entre as pessoas (normas), num processo de comunicação entre todos os participantes e o próprio desenvolvimento do grupo em direção ao seu objetivo.
O processo grupal
Implica uma rede de relações que pode caracterizar-se por relações equilibradas de poder entre os participantes ou pela presença de um líder ou subgrupo que detém o poder e determina as obrigações e normas que regulam a vida grupal. As relações de poder no grupo determinam ou influenciam o grau de participação dos integrantes no processo de comunicação interno; no sistema de normas, nas suas aplicações, punições e decisões.
Todo grupo tem uma história e, através dela, podemos verificar as mudanças. As normas podem alterar-se no sentido de criação de novas ou revisão das antigas. O sistema de punição aos infratores pode tornar-se mais ou menos rígido, dependendo do grau de controle que o grupo quer manter sobre o comportamento de seus membros. O sentimento de solidariedade pode estabelecer-se como um importante fator de manutenção do grupo, e podem surgir conflitos com relação a valores (cumprir ou não a tarefa), a normas (quem não cumpre uma tarefa deve ser punido) e a outros aspectos da vida grupal. Esses conflitos originam-se do confronto permanente entre a diversidade de ponto de vista presentes no grupo. “O conflito não leva, necessariamente, à dissolução do grupo e pode caracterizar-se como um estágio de seu crescimento”5.
O processo de desenvolvimento do grupo proporciona a seus integrantes condição de evolução e crescimento pessoal. Participar de um grupo significa partilhar representações, crenças, informações, pontos de vista, emoções, aprender a desempenhar papéis de filho, estudante, profissional...
Alguns processos grupais
1) Coesão
Pode ser definida como a quantidade de pressão exercida sobre os integrantes de um grupo a fim de que continuem nele. “É a resultante das forças que agem sobre um membro para que ele permaneça no grupo...”6. Inúmeras são as razões que podem levar uma pessoa a fazer parte de um grupo. Uma delas pode ser a atração pelo grupo ou por seus integrantes. Outra seria a forma de obter algum interesse através da filiação ao grupo. Para o professor Aroldo Rodrigues7, quando maior a coesão do grupo:
a) maior a satisfação experimentada por seus membros;
b) maior a quantidade de influência exercida pelo grupo em seus membros;
c) maior a quantidade de comunicação entre os membros;
d) maior a produtividade do grupo.
A coesão grupal não gera apenas vantagens, pois os grupos altamente coesos estão sujeitos ao “pensamento grupal”8, o que pode fazer com que o grupo tome decisões desastradas. A união entre os participantes é tamanha que eles se tornam pouco crítico, podendo apresentar distorções da realidade social.
2) Cooperação
“Associação de pessoas trabalhando juntas em prol de um ou mais objetivos”9. É a ação conjunta de dois ou mais indivíduos a fim de influir nos resultados de uma ou mais pessoas. Membros de um grupo formam coalizões quando isto lhes parece oportuno, quando os resultados podem ser mais compensadores. Esta estratégia permite que diferenças iniciais de poder entre os membros de um grupo venham a ser anuladas. A cooperação da Rússia com o Iraque faz frente ao poderio dos EUA, potência mundial que é hostil ao governo de Saddam Hussein. A cooperação entre Rússia e Iraque resulta em um maior poder conjunto e, conseqüentemente, numa maior capacidade do pequeno país oferecer resistência aos EUA, que individualmente é mais poderoso que os outros integrantes da coalizão.
3) Formação de normas
De um modo geral podemos conceituar normas sociais como sendo padrões ou expectativas de comportamento partilhado pelos integrantes de um grupo, que utilizam estes padrões para julgar a propriedade ou adequação de suas analises, sentimentos e comportamentos. Todo grupo, não importa o tamanho, necessita estabelecer normas para poder funcionar adequadamente. Por exemplo, “um casal estabelece normas a serem cumpridas por ambos, no propósito de evitar atritos e gerar uma convivência mais harmoniosa”10.
Em grupos de pouca coesão pode haver dificuldade no estabelecimento de normas, devido à multiplicidade de interesses. As normas grupais são um excelente substituto para o uso do poder que, quase sempre, provoca tensão nos integrantes do grupo. “Em vez de o líder estar constantemente utilizando sua capacidade de influenciar seus liderados, a existência de normas facilita seu trabalho e dispensa o constante exercício e demonstração de poder”11.
As normas sociais facilitam a vida dos membros de um grupo. Elas não são necessariamente explícitas, mas partilhadas, conhecidas e seguidas pelos integrantes do grupo. Geralmente, quem não aceita às normas é isolado pelos demais participantes do grupo. O convívio em sociedade necessita da existência de normas sociais.
4) Liderança
Durante décadas acreditou-se na figura do líder nato, que apresentava as seguintes características: inteligência, criatividade, persistência, autoconfiança e sociabilidade. É certo que muitas destas características ajudam o indivíduo a desenvolver o potencial de liderança, mas não se pode afirmar que um indivíduo será líder por apresentar estas credenciais. É fundamental que estes e outros aspectos sejam harmonizados com os objetivos perseguidos pelo grupo. Os ídolos de ontem não despertam mais o mesmo interesse nas novas gerações, como faziam com o público nas décadas passadas, pois os padrões de beleza e comportamento já não são os mesmos.
Atualmente verificamos uma forte inclinação em não aceitar as teorias baseadas nas características de liderança enumeradas acima. Hoje em dia é mais aceita a posição da liderança como fenômeno decorrente da interação entre os participantes, com acentuada dependência dos objetivos e clima do grupo.
Kurt Lewin12 identificou três tipos de liderança:
a) autocrítica - onde ocorre a total centralização do poder, exercido através da coerção;
b) democrática - as decisões são tomadas por maioria, o líder é apenas um representante da vontade de seus liderados;
c) permissiva - onde é permitido a cada integrante do grupo agir como deseja, não há efetivamente uma ação de liderança.
Estudos realizados por diversos psicólogos, levando em conta estes três tipos de classificação, demonstraram que a liderança democrática torna os integrantes do grupo menos dependentes do líder. Já a classificação autocrítica gera maior produtividade, elevando o grau de dependência dos integrantes do grupo em relação ao líder, chegando ao ponto de não saberem produzir sem a sua presença. A liderança permissiva (laissez-faire) gerou os piores resultados.
Hoje sabemos que a liderança é um processo interacional, com características próprias, sendo impossível estabelecer, a princípio, com certeza absoluta, qual a pessoa mais preparada para comandar determinado grupo. O líder deverá surgir durante o processo de interação dos participantes.
5) Status
“É o prestígio desfrutado por um membro do grupo”13. Pode ser como o indivíduo o percebe, status subjetivo; ou pode ser o resultado do consenso do grupo sobre este indivíduo, o chamado status social. O primeiro pode ou não corresponder ao segundo. Caso, em comparação aos resultados obtidos pelos demais participantes do grupo, “um dos membros se considera recebedor de resultados mais gratificantes, isto produzirá nele a sensação de status subjetivo elevado”14, pois se destaca dos demais no que diz respeito as gratificações recebidas em seu grupo. Se os demais participantes consideram essa pessoa como necessária ao grupo, capaz de gerar benefícios que agradem a maioria, ela terá statussocial elevado neste grupo.
Determinados atributos pessoais, dependendo da natureza do grupo, poderão ser ou não significativos para o bom desempenho do status social. Vejamos: se num grupo de jornalistas econômicos um deles joga basquete muito bem, tal qualidade terá pouca importância para a sua performance de status social no grupo. Mas, se ele possui uma coluna em um jornal diário de grande circulação, diversas obras sobre economias publicadas, títulos acadêmicos, isto certamente irá conferir um alto grau de status subjetivo e social junto aos leitores do veículo e do público em geral.
A falta de equilíbrio entre os status pode causar problemas de adaptação do indivíduo no grupo. Se ele possui status subjetivo elevado e baixo status social, deverá sentir-se desconfortável no grupo, sendo provável ocorrer um desligamento. Se o caso for ao contrário, status subjetivo baixo e alto status social, ele poderá permanecer no grupo, devido ao tratamento amistoso por parte dos integrantes, mas isto poderá causar dificuldades de funcionamento no grupo. “O status subjetivo faz com que a pessoa espere receber do grupo determinadas recompensas”15. Quando não há harmonia entre as expectativas e a realidade, surgem os problemas de adaptação do indivíduo ao grupo. É o caso das mulheres executivas que ganham mais do que seus maridos. Elas passaram a esperar, devido ao aumento do status subjetivo, outras recompensas do grupo familiar. “Sendo uma situação nova, esta incongruência entre status subjetivo e status social da mulher no grupo familiar tem suscitado conflitos e problemas que, não raro, terminam com a dissolução do vínculo matrimonial.”16
6) Papel social
Em quase todos os grupos sociais é possível se estabelecer o status de cada integrante bem como o papel que lhe cabe desempenhar. Papel seria a totalidade de modos de conduta que um indivíduo aguarda numa determinada posição no interior de um grupo. O papel social é um modelo de comportamento definido pelo grupo. Nenhum grupo social pode ter bom funcionamento sem estabelecer papéis para seus integrantes. É certo que a diversidade de papéis a serem desempenhados pelos participantes de um grupo freqüentemente causam tensão e conflitos entre seus membros. Tal situação pode ocasionar o abandono ou a expulsão do integrante do grupo.
As normas sociais, assim como o status subjetivo e social, influenciam no papel a ser desempenhado pelos integrantes de um grupo. Os indivíduos desempenham o mesmo papel quando um mesmo conjunto de normas dirige o seu comportamento. Para o funcionamento harmonioso do grupo é necessário que o papel subjetivo do indivíduo (atribuído pelo próprio) seja coerente com o que dele esperam os demais participantes.
Vários são os aspectos que influenciam no estabelecimento de papéis, entre eles: normas culturais, idade, sexo, status, nível educacional... As expectativas dos papéis a serem desenvolvidos pelos membros de um grupo variam à medida que o grupo se desenvolve. Os papéis são desempenhados pelos integrantes de acordo com as peculiaridades do grupo a que pertencem.
Conclusão
O presente trabalho apresentou uma breve contribuição ao entendimento de alguns aspectos dos processos grupais, abordando alguns fenômenos importantes no funcionamento dos grupos psicológicos, onde o comportamento de um membro interage no comportamento dos demais e vice-versa.
Processos como coesão, cooperação, liderança, status e papel social, orientam o comportamento dentro dos grupos na maior parte do tempo. Cada grupo a que pertencemos tem seus próprios padrões. Os seres humanos parecem sentir-se pouco à vontade sem o estabelecimento de normas e, geralmente, acham um sacrifício adotar novas normas, especialmente se estas são radicalmente diferentes.
Referências bibliográficas
1) OLIVEIRA, M. Vygotsky. Aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-histórico. 2a. ed. São Paulo: Scipione, 1995, p. 35.
2) RODRIGUES, A. Psicologia social para principiantes. 2a. ed. Petrópolis: Vozes, 1995, p. 99.
3) BERGER, P. & LUCKMANN, T. A construção social da realidade. 2a. ed. Petrópolis: Vozes, 1974, pp. 78-79.
4) OLIVEIRA, M. Vygotsky. Aprendizado e desenvolvimento, um processo sócio-histórico. 2a. ed. São Paulo: Scipione, 1995.
5) KRÜGER, H. Durante as aulas de Psicologia Social, no curso de mestrado em Psicologia da UGF, 1998.
6) RODRIGUES, A. Psicologia social. 14a. ed. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 425.
7) RODRIGUES, A. Psicologia social para principiantes. 2a. ed. Petrópolis: Vozes, 1995, p.100.
8) Idem.
9) KRÜGER, H. Durante as aulas de Psicologia Social, no curso de mestrado em Psicologia da UGF, 1998.
10) Idem.
11) RODRIGUES, A. Psicologia social para principiantes. 2ª ed. Petrópolis: Vozes, 1995, p. 101.
12) RODRIGUES, A. Psicologia social. 14ª. ed. Petrópolis: Vozes, 1992, p. 434.
13) Idem, p. 435.
14) RODRIGUES, A. Psicologia social para principiantes. 2a. ed. Petrópolis: Vozes, 1995, p. 103.
15) Idem, p. 104.
16) Ibdem.
Resumo
A história de vida do indivíduo é a história de pertencer a inúmeros grupos sociais. É no grupo familiar que ele aprenderá a se comunicar. A partir daí, este aprendizado possibilitará seu ingresso em outros grupos sociais e sua participação na sociedade. O estudo dos processos grupais (dinâmica psicossocial) atingiu um estado de desenvolvimento que atualmente já é considerado, por alguns estudiosos, como uma área autônoma da psicologia social. No presente artigo veremos alguns aspectos desses processos, tais como: coesão, liderança, status, formação de normas e papel social.
Palavras chave
Comunicação, liderança, status e papel social.
Abstract
The history of life of the individual is history to belong the innumerable social groups. It is in the familiar group that it will learn if to communicate. From there, this learning it wil make possible its ingression in other social groups and its participation in the society. The study of de group processes (dynamic psicossocial) it reached a development state that currently already it is considered, for some scholars, as stand alone area of social psychology. In the present article we will see some aspects of these processes, such as: cohesion, leadership, status, formation of normas and social paper.
Key-words: Communication, leardship, status and social paper.
GOMES, Marcos Alexandre de Souza. Breve descrição sobre processos grupais. Comum v. 7, n o 19, Rio de Janeiro, ago/dez 2002; p.209 a 219.