Chama-se Jornalismo Político a especialização da profissão jornalística nos assuntos relativos à política (em níveis local, regional e nacional), ao parlamento, aos partidos e a todas as esferas de poder formal na sociedade.
Em vários veículos, a cobertura política é fundida com a editoria Nacional.
O jornalismo como força sociopolítica
O jornalismo é um meio de comunicação como força social. Muitas vezes tem também força política ou lugar entre as forças políticas da sociedade. Isso faz parte naturalmente das preocupações e finalidades do jornalismo diário, mas mesmo a imprensa especializada, orientada para segmentos de atividades aparentemente indiferentes, pode converter-se em instrumento político de destaque.
O jornalismo que se classifica como apolítico preocupa-se com aspectos esportivos, recreativos ou de sensacionalismo. No fundo está em estreita harmonia com a ideologia predominante, mas costuma omitir-se nas lutas dos conflitos partidários e administrativos. Em contrapartida as preocupações do regime político e da administração pública podem exercer forte impacto sobre esse tipo de imprensa, coibindo-lhe os possíveis excessos, como é o caso dos periódicos pornográficos. Nesse caso a moral e os bons costumes têm como aliados as igrejas, seitas e religiões.
A imprensa independente não é alheia à política. Aspira a não tomar posição definida por nenhuma força política concreta, mas procura expor a atividade política de forças e governos com aparente isenção. Em resposta a uma pesquisa sobre o jornalismo contemporâneo, G. Bonheur, na ocasião diretor do Paris Match, afirmou: "creio que a grande imprensa informativa trata de dar conta da oposição manifestada - no parlamento, na rua, nas universidades..." E acrescentou: "Alguns diários informativos empregam a tribuna livre. A tribuna fica a seus cuidados, não o que nela se diz" (1959). A imprensa independente não adota posições diretas em face de problemas políticos concretos e específicos, embora o faça veladamente ou por meio dessa postura de dar conta da oposição já manifestada em órgãos da opinião pública.
Devido a essa independência o jornalismo com essas características tem sido alvo de fortes embates. Uma delas é de ser conservador e defensor indireto do status quo, quando Os socialistas fazem duras críticas a esse tipo de imprensa e suas afirmações geram muitas polêmicas, como é o caso do nosso país na atualidade, onde a imprensa é conservadora e o Governo Federal tem um viés de esquerda. (DOMENACH, J. M. La propagande politique. 5 ed. Paris, PUF, 1965. p. 19).
Por esse processo de pseudo independência, unido ao aspecto mercantil da imprensa, há um predomínio de interesses que dificultam a emissão realmente independente de informações e ponto de vista sobre os fatos. Tais interesses tanto podem ser os do grupo leitor como os do grupo editor, mas geralmente coincidem. Geralmente quem tem o dinheiro tem o poder. E quem quer ter o dinheiro prefere ficar ao lado de quem tem o poder. Um casamento perfeito. A fome com a vontade de comer... (ECKARDT, H. Von. Fundamentos de La política. Barcelona, Labor, 1932, p. 132-33).
Com esse tipo de estrutura sub-reptícia, bem conhecido nos dias de hoje, a imprensa independente encontrou o caminho do fabuloso êxito que tem atualmente: a informação de aparência meramente objetiva. Por ela substitui-se a linha editorial que deu o primeiro grande impulso ao jornalismo: a opinião.
O jornalismo de opinião é uma força política direta ou órgão de expressão de uma força partidária. Em ambos os casos tem força política e atua sobre a opinião pública. Sendo intensa essa força política pode realmente condicionar o setor a que se dirige. Às vezes se limita a interpretar gostos e tendências da opinião pública, estudando com a maior atenção ou simplesmente intuindo as reações do grupo leitor ou do público em geral. Em outros casos procura influir nos comportamentos da opinião pública, constituindo-a ou mudando-a; convencendo-a, formando-a ou organizando-a. Enfim, nesse caso orienta-se para uma das vertentes abaixo: (ADORNO, T. W. Justificación de La filosofia. Madrid, 1964, p. 33).
Opinião proseletista
Oriunda do poder pode ser denominada de propaganda, enquanto a que se origina de interesses econômicos privados recebia a alcunha de publicidade.
Opinião crítica
A oposição tem sido um dos elementos criadores de prestígio para o jornalismo. Fazer oposição é normalmente um instrumento importante no surgimento da liberdade como direito de divergir, pois é um grande instrumento de resistência ao poder que lutou enormemente para impor-se na vida política. (DUVERGER, M. Institutions politiques ET droit constitutionnel. 6ª Ed. Paris: PUF, 1962).
O jornalismo oposicionista teve êxito durante quase todo o século XIX. Ao lado do partido político serviu de instrumento para despertar muitas pessoas na atividade política. Foi o meio preferido das forças políticas para atuar, embora às vezes se apresentasse com caráter autônomo (LLÓRENS CASTILLO, V. “El Español de Blanco White, primer periódico oposición. In: Boletín informativo de Seminario de Derecho Político de Salamanca. Princeton, mar. 1962. P. 3).
A transcendência sociopolítica do jornalismo está em função do sistema político e cultural, do regime político, da regulamentação, do financiamento e das possibilidades de comportamento. “Trata-se de um conjunto de pressupostos objetivos, nem sempre fácil de determinar, cujo conhecimento constitui o estudo indispensável da imprensa como força política”. (BURDEAU, G. Méthode de La science politique. Paris: Dalloz, 1958). Pode estar condicionado por inúmeros fatores econômicos e sociais, mas também se pode manifestar como importante grupo de pressão e de interesse. É uma força política de muitas dimensões, o que dificulta sua real e autêntica compreensão.
Avaliação
O jornalismo tem lugar de destaque na cultura contemporânea. Objeto de grandes elogios e críticas, sempre presente em múltiplos aspectos das representações sociais. Sua influência está condicionada há um forte tecido de condições objetivas, mas sua presença é clara e facilmente mensurada.
O jornalismo cria um mundo de representações específicas. Um mundo que se põe entre a realidade e a consciência do público. Pode ser mais ou menos discutível sua influência direta e imediata, mas é grande sua influência dissimulada e a longo prazo. O jornalismo é um meio instrumental de comunicação que se interpõe à realidade para substituí-la ou aproximá-la com o objetivo de colocá-la à disposição da sociedade. Um mundo de informações, atualmente com tendências sensacionalistas, que a cada dia captam a curiosidade e a ânsia de conhecimento e compreensão do público.
"O bem e o mal da imprensa são inseparáveis". WEILL, G. J.Temas
As pautas do Jornalismo Político incluem a cobertura de eventos (eleições, revoluções, golpes, votações parlamentares, decretos, negociações entre partidos e blocos de poder e inúmeros outros), as instituições que geram produtos e fatos (governos, ministérios, secretarias, partidos, órgãos oficiais, institutos de pesquisa de opinião), as políticas públicas (ministérios da área institucional, secretarias de governo) e o dia-a-dia do poder.
Nestes assuntos do cotidiano, incluem-se: negociações, acordos e trâmites de projetos de lei, mudanças de cargos, processos contra políticos e ocupantes de cargos públicos, além de escândalos de crimes políticos, abuso de poder, tráfico de influência e corrupção.
Fontes
Como na maior parte das especializações jornalísticas, as fontes de Política são divididas entre protagonistas (políticos, inclusive sem cargo público), autoridades (presidentes, governadores, prefeitos, ministros, secretários, senadores, deputados, vereadores), especialistas (analistas políticos, cientistas políticos, sociólogos) e usuários (eleitores, contribuintes, correligionários).
Jornalistas que cobrem política em nível nacional costumam ser concentrados na capital do país, e geralmente trabalham em contato constante com políticos e ocupantes de cargos públicos, inclusive almoçando e fazendo refeições em conjunto. Vários prédios de parlamentos e palácios de governo têm salas de imprensa, onde as assessorias atendem aos repórteres. Eles se dividem entre setoristas de governo, do parlamento (câmara alta e câmara baixa), dos ministérios/secretarias e dos partidos, entre outras instituições.
Jornalismo político no Brasil
O Brasil também confere grande prestígio a colunistas e comentaristas políticos, às vezes mais do que a repórteres de política. Diferentemente da reportagem, o comentário não é exclusivamente jornalístico, e pode ser feito por qualquer pessoa, seja jornalista ou não. Algumas colunas chegaram a ter grande importância e eram lidas diariamente por autoridades dos altos escalões: foi o caso de Carlos Castello Branco com sua "Coluna do Castello", e de Carlos Chagas na revista Manchete. Alguns comentaristas notáveis atualmente são Dora Kramer, Eliane Catanhêde, Tereza Cruvinel, Clóvis Rossi, Josias de Souza (em jornais), Diogo Mainardi, Alexandre Garcia, Miriam Leitão (na televisão), Carlos Alberto Sardenberg (no rádio). Já entre os repórteres de política, destacam-se Fernando Rodrigues, Elvira Lobato, Kennedy Alencar da Folha de S.Paulo Outra boa fonte para se apreciar os comentaristas políticos são os blogs. O tratamento da notícia ganha um caráter mais interessante, mais "livre", de certa forma. Os blogs do Fernando Rodrigues e do Josias de Souza, por exemplo, são fontes muito boas de consulta e oferecem visões interessantes sobre o mundo político brasileiro. No entanto, é sempre interessante estar atento ao viés nem tão imparcial dos jornais no que se refere à cobertura política. No Brasil, os jornais têm uma linha política, que fica oculta sob a aparência da imparcialidade.
Bibliografia Básica:
MOURA, Dione et alli. Comunicação e cidadania: conceitos e processos. Brasília: Francis, 2011.
MARTINS, Franklin. Jornalismo político. São Paulo: Contexto, 2005.
ARBEX JÚNIOR, José. O Jornalismo Canalha: a promíscua relação entre a mídia e o poder. São Paulo: Casa Amarela, 2003. 195 p.
CONTI, Mario Sergio. Notícias do Planalto: a imprensa e Fernando Collor. São Paulo: Companhia das letras, 1999. 719 p. ISBN 85-7164-948-0.
Bibliografia Complementar:
CORRÊA, Villas-Bôas. Conversa com a memória: a história de meio século de jornalismo político. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002.
FARIA, José Eduardo. Política e jornalismo: em busca da liberdade. São Paulo: Perspectiva, 1979.
GARCIA, Alexandre. Nos bastidores da notícia. São Paulo: Globo, 1990.
GOLDENSTEIN, Gisela Taschner. Do jornalismo político à indústria cultural. São Paulo: Summus, 1987.
PEREIRA, Francelino. Castelinho: o reinventor do jornalismo político no Brasil. Brasilia: Senado Federal, 2001.
Programa de Jornalismo Político
O que é jornalismo; natureza e estrutura; fins e objetivos.
O jornalismo como força sociopolítica.
Jornalismo e identidade: pressupostos teóricos.
O jornalismo como uma construção social.
Jornalismo interpretativo.
Jornalismo opinativo.
Uma arqueologia dos discursos sobre a liberdade de imprensa; liberdade e responsabilidade social.
A política social e sua relação com os poderes econômicos e político.
A proteção social no contexto do capitalismo industrial.
O modelo de proteção social no Brasil.
As tendências da proteção social no contexto do capitalismo financeiro; estados nacionais globalizados; desregulamentação e institucionalização do precário; os pobres como cidadão de segunda classe; a gestão do social pela produtividade.
Financeirização das políticas sociais.