"Já comuniquei diversas vezes ao governo federal que esse é um problema real e que vai aumentar. Vai se transformar em um problema de dimensão nacional", afirmou.
Viana comentou ainda os desentendimentos com o governo estadual de São Paulo, que reagiu de forma surpresa com a chegada dos haitianos. "No ano passado, oito mil bolivianos entraram pelo Acre, pegaram vistos e foram para São Paulo. Não houve reclamação então por que? Criou-se uma crise aqui quando chegaram apenas 138 haitianos. No Acre, já chegamos a receber 300 em um dia", garantiu. Ao comentar a chegada de haitianos na capital paulista, a secretária de Justiça e Defesa da Cidadania do estado de São Paulo, Eloisa de Souza Arruda, chegou a afirmar que o governo do Acre agia como "coiote" – agente que facilita a entrada ilegal de imigrantes. "Com que autoridade e por que motivo eu iria prender as pessoas aqui? Se o cidadão está com visto no país, tem de valer para ele o que está na Constituição. Oferecemos transporte a uma minoria que nos solicitou para encontrar a família", rebateu o governador.
Os maiores questionamentos do governador, no entanto, foram dirigidos à reação de grupos que se manifestaram de forma preconceituosa nas redes sociais em relação aos imigrantes haitianos. "O que eu chamo de elite paulistana é isso, quem tem essa mente fechada, preconceituosa, que não compreende que este é um mundo de solidariedade. Que reagiram nas redes sociais mandando levarem embora os negros", ressaltou. "Por isso, me sinto no direito de questionar a polêmica. É só porque são negros?", indagou.
Viana anunciou acordo fechado com os governos do estado de São Paulo, com a prefeitura e com o governo federal para a chegada dos haitianos: o apoio principal de entrada no país terá de ser, obrigatoriamente, Rio Branco, capital do Acre, de forma que os imigrantes não partam para outros estados antes de ter a documentação concluída. Para isso, o Brasil tentará garantir que o visto de entrada seja emitido já em Porto Príncipe, no Haiti. "O Acre é a principal entrada e será lá o principal ponto de apoio. Fechamos hoje esse acordo com o Mercadante [Aloizio, ministro da Casa Civil]", contou.
Sérgio Vale/ SECOM