Com aumento da notificação de casos da doença entre menores de 1 ano de idade, SUS poderá tratar e curar todos os bebês infectados do país
O Brasil pode cumprir, nos próximos anos, a meta de eliminar a sífilis congênita – transmitida da mãe para o bebê. Para chegar à estimativa de 12 mil recém-nascidos que contraem a doença a cada ano, os profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) ampliaram em 34 (6.981 para 9.401) a notificação de casos em menores de 1 ano de idade, de 2010 para 2011. A partir do avanço no diagnóstico, os bebês podem ser tratados, curados, e a sífilis congênita eliminada. Nesse ritmo de notificações, o Brasil deve mapear e tratar todos os casos da doença até 2015. Os dados fazem parte boletim epidemiológico da doença, editado pelo Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.
Para avançar no cumprimento do objetivo de eliminação, o Ministério da Saúde conta com a Rede Cegonha, estratégia que está ampliando a oferta de testes rápidos de sífilis no pré-natal. O número de exames distribuídos até setembro de 2012 foi sete vezes maior do que todo o ano de 2011 – passou de 31,5 mil para 237 mil unidades. Com essa nova tecnologia, a gestante tem a oportunidade de saber se já teve contato com o vírus causador da doença, em apenas 30 minutos, durante a consulta de pré-natal.
Para que o tratamento da mãe seja efetivo e evite a transmissão para o bebê, o procedimento precisa ser realizado até um mês antes do parto. Se infectado pela sífilis, o bebê tem que ficar internado por dez dias para receber a medicação adequada. O maior desafio para interromper a cadeia de transmissão da sífilis congênita é tratar o parceiro. Os homens são mais resistentes a cuidar da saúde e isso tem impacto na família. Mesmo que a mulher tome corretamente a medicação, pode se reinfectar. O estudo Sentinela Parturiente 2012, do Ministério da Saúde, confirma essa barreira: das mulheres que foram identificadas com sífilis em 2011 durante o pré-natal, apenas 11,5 tiveram seus parceiros tratados. Nesse aspecto, uma grande vantagem da Rede Cegonha é a possibilidade de a gestante já sair da consulta de pré-natal com o resultado do teste e com a primeira dose da medicação (o tratamento realizado ao longo de três semanas é suficiente para a cura da gestante).
A região que apresenta a maior taxa de incidência de sífilis congênita é a Nordeste, com 3,8 casos a cada 1 mil nascidos vivos, seguida da Sudeste, cujo índice é de 3,6. O Centro-Oeste é o que tem o menor número proporcional de bebês com a doença: 1,8.
No ranking dos estados, o Rio de Janeiro é o que tem a maior taxa de sífilis congênita - 9,8 ocorrências da doença a cada 1 mil bebês que nascem vivos. O estado fluminense é seguido do Ceará (6,8) e de Sergipe (6,7). O local com menor taxa de sífilis em recém-nascidos é o Piauí (0,8).
A notificação de sífilis em gestantes também está aumentando, quase no mesmo ritmo do registro de casos em menores de 1 ano. Entre 2010 para 2011, cresceu 38 − de 10.325 para 14.321, no período. Considerando a estimativa de 50 mil gestantes infectadas a cada ano, ainda existem cerca de 35 mil mulheres que terminam a gravidez sem saber que estão infectadas. Isso mostra que a oferta do teste rápido no pré-natal pode ser o diferencial para mudar essa realidade.
Em relação à faixa etária, o maior percentual de grávidas com sífilis ocorre entre as que têm de 20 a 29 anos – 51. A escolaridade de 46,2 das mulheres grávidas com sífilis se concentra entre as que têm ensino básico e fundamental incompleto.
A sífilis congênita é provocada pela infecção do feto pelo Treponema pallidum, bactéria causadora da sífilis. A infecção do feto ocorre por meio da placenta de uma mulher grávida que esteja infectada pela doença. A sífilis tem cura, quando o tratamento é realizado de forma adequada (uso de penicilina, que está disponível na rede pública de saúde). Se não for tratada adequadamente durante a gravidez, pode provocar a morte do bebê, ou deixar sequelas, como má formação óssea, surdez e problemas neurológicos. Além da transmissão vertical, a sífilis pode ser passada durante o sexo sem camisinha com alguém infectado ou por transfusão de sangue contaminado.
Data nacional – O Dia Nacional de Combate à Sífilis foi criado pela Sociedade Brasileira de DST em 2006, para diminuir o preconceito em relação às doenças sexualmente transmissíveis (DST) e mobilizar o poder público e a sociedade para ações que visem eliminar a sífilis congênita. A data é sempre lembrada no terceiro sábado de outubro, que neste ano cai no dia 20. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 12 milhões de novos casos ocorrem a cada ano no mundo.
Campanha – Reduzir o número de pessoas infectadas pela sífilis e aumentar a testagem para detecção da doença. As estratégias fazem parte de campanha nacional pelo diagnóstico prevista entrar em circulação em rádios e TV a partir do dia 20 de outubro. O projeto é uma iniciativa da Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida e tem o apoio do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.
O filme para TV incentiva a testagem e o spot para rádio ressalta a importância da prevenção com o uso da camisinha. O material apresenta também os principais sintomas da doença e informa sobre a importância do diagnóstico precoce da sífilis.